Juízes de garantias consolidam Estado de Direito

Luanda – A entrada em funcionamento de mais de 160 juízes de garantias, a partir de terça-feira, no país, representa um avanço significativo no processo de consolidação do próprio Estado de Direito, segundo o vogal e porta-voz do Conselho Superior da Magistratura Judicial (CSMJ), Correia Bartolomeu.

Em entrevista à ANGOP, Correia Bartolomeu declarou que o papel dos juízes de garantias será, essencialmente, o de salvaguardar o respeito e protecção de direitos fundamentais de cidadãos em conflito com a lei, na fase de instrução preparatória.

Salientou ainda que ele vai permitir que funções típicas de natureza jurisdicional, que eram exercidas por procuradores, passem a ser realizadas por magistrados judiciais, de carreira,  de forma neutral e desinteressada, intervindo sempre que estiverem em causa direitos fundamentais como de liberdade,  livre circulação, de personalidade, entre outros. 

O vogal do CSMJ afirmou que a
intervenção do juiz no processo de instrução preparatória visa fiscalizar os actos do Ministério Público e praticar actos da sua exclusiva competência, tais como decretar prisão preventiva, prisão preventiva domiciliar ou mesmo a interdição de saída dos arguidos do país.

São medidas gravosas que nos termos da lei só deverão ser decretadas por um juiz de garantias, mas que até a data eram determinadas por procuradores, adiantou. 

Correia Bartolomeu disse que é preciso que os órgãos que intervêm na justiça sejam dotados de competências e poderes para de forma justa, imparcial e independente apreciem questões relacionadas com os direitos fundamentais.
 
Lembrou que, até então, o único órgão que tratava dos processos na fase de instrução preparatória era o Ministério Público, enquanto entidade que dirige a instrução processual, titular da acção penal, coadjuvado pelos órgãos da polícia.

Referiu que a partir de 2 de Maio de 2023 os direitos humanos passam a merecer uma tutela mais forte, há  muito aclamada pelos cidadãos. 

Declarou que o juiz de garantias assegura maior previsibilidade e confiança no sistema judicial, incluindo dos investidores estrangeiros que passam a acreditar na existência de instituições fortes, com garantias da assistência judicial credível.

Sublinhou que os mais de 160  juízes de garantias, com vários anos de experiência, vão cobrir os 62 Tribunais de Comarca, estabelecidos pelo mapa judiciário de Angola, alguns dos quais abrangendo três ou quatro municípios, dependendo da proximidade geográfica e da localização estratégica d a localidade sede da Comarca.

Explicou que a Constituição da República estabelece, em termos de organização, uma jurisdição comum encabeçada pelo Tribunal Supremo e que integra os Tribunais da Relação e de Comarca.

Contou que actualmente funcionam os  Tribunais da Relação de Luanda, Benguela e Huíla. Para o do Uige, com infraestrutura concluída, falta concurso público para designação dos juízes. 

O quinto Tribunal da Relação será implantado em Saurimo, na Lunda Sul.
 
Salientou que no quadro actual 
deixaram de existir os Tribunais Provinciais, dando lugar aos 62 de Comarca que são os de primeira instância, aproximando cada vez mais a justiça aos cidadãos, enquanto os da Relação são essencialmente de recurso de  agravo ou de apelação.

Esclareceu que o Tribunal da Relação, para lá de apreciar os recursos de decisões tomadas em primeira instância, têm também competências para julgar em primeira instância para impugnação de actos administrativos de uma determinada entidade pública. JFS/SC