Grupo Teatral Damba Maria de Benguela no Festival Comunitário do Rio de Janeiro

O grupo Teatral Damba Maria, único representante de Angola no VII Festival Internacional de Teatro Comunitário do Rio de Janeiro, está preparado para representar condignamente o país no evento que se realiza de 20 a 24 deste mês, no Brasil.

A possibilidade de voltar a mostrar a herança cultural de Benguela, por meio do teatro, tem gerado muitas expectativas aos membros do grupo de teatro Damba Maria, representante angolano no festival.

Depois do grande brilharete no ano passado, no Festival Internacional Teatro de Inverno (FITI), que decorreu de 27 de Maio até 12 de Junho, nas cidades de Maputo e Beira, em Moçambique, o grupo volta a entrar em cena nos palcos internacionais com as peças de teatro “A morte não é minha”, que retrata o pesadelo de um homem, que pensa ter sido o culpado pela morte da mulher, pesadelo que o tormenta dia e noite, levando o viúvo ao desespero. Na segunda peça a ser apresentada no festival, o grupo propõe o espectáculo “Heroínas sem Nomes”. O grupo, pretende apresentar uma peça que aborda vários aspectos do quotidiano e as tradições do Sul do país, com adaptações, para ilustrar aspectos culturais de Benguela.

A história do espectáculo assenta na luta pela sobrevivência de três guerreiras, que ajudaram na conquista da Independência Nacional. Intitulada “Heroínas Sem Nome”, é um dos destaques da “festa do teatro comunitário” no Rio de Janeiro. As três mulheres angolanas que participaram em todos os processos de luta até o alcance da paz efectiva, em 2002, juntam-se para contarem as vivências de uma Angola reconciliada entre irmãos.

Incentivos locais animam delegação

O risco que o grupo corria de não participar, parece ser um caso ultrapassado, porque o  Governo Provincial de Benguela, está tudo a fazer para criar condições de apoio na compra dos bilhetes de passagem da delegação. De acordo com as declarações prestadas ontem pelo responsável do grupo ao Jornal de Angola, existe “uma luz verde” do governo local que poderá nos próximos dias disponibilizar o dinheiro para a aquisição dos bilhetes de passagens, situação que animou os integrantes do Damba Maria.

Até ao dia de ontem, o grupo precisava de três milhões e 500 mil kwanzas, apenas para compra dos bilhetes, já que a organização do festival é responsável pelo alojamento e alimentação.

O director do grupo, Adérito Tchiuca, lamentou a falta de interesse por parte do sector empresarial de Benguela, no apoio às actividades artísticas e culturais, em especial para o teatro, já que a Lei do Mecenato não se faz sentir. “Reconhecemos os esforços do governo local, mas ainda assim, deve existir uma maior participação dos empresários no apoio e no fomento das actividades culturais.”

Por ser um dos maiores e mais importantes festivais do Rio de Janeiro, com a participação de várias nações, entre as quais, Angola, que nunca esteve presente desde a sua criação, é uma boa montra para vender a imagem do país e poder mostrar as potencialidades e o seu desenvolvimento.       

Dificuldades continuam 

O director do grupo Damba Maria, Adérito Tchiuca, disse que um dos principais constrangimentos tem sido mesmo a falta de apoios financeiros para a compra dos bilhetes de passagem para participar nos festivais internacionais, o que deveria existir um Fundo de Apoio às artes no país. Entretanto, assegurou, que estão a ser feitos os contactos com instituições parceiras no sentido de voltarem a apoiar o grupo, à semelhança da participação do grupo no festival de Moçambique no ano passado.

O responsável acredita que até à véspera do festival “poderemos conseguir solucionar esses entraves porque queremos acreditar na sensibilidade dos empresários locais e do Governo da Província que muito tem apoiado as artes”, sublinhou.

Devido aos custos da viagem, referiu, a caravana do grupo vai ser limitada. A projecção das artes cénicas em Benguela, resumiu, tem dado os frutos, em especial com a realização do projecto cultural e artístico  “Noites de Teatro aos Domingos”, que acontece semanalmente naquela cidade, numa iniciativa do grupo Damba Maria e os grupos locais.

O projecto, adiantou, é extensivo a todos os grupos de teatro do país. A ideia, disse, é a massificação e dinamização do teatro e dar oportunidade aos grupos de serem mais auto-sustentáveis.

A iniciativa, explicou, teve o arranque no ano passado, mas tem estado, actualmente, a ser realizada em fases, devido à questão de espaços para a exibição, uma vez que o Cinema Monumental está encerrado para obras de reabilitação.

Diversidade aproxima povos e culturas

O VII Encontro Internacional de Teatro Comunitário do Rio de Janeiro está em construção com apoios públicos e privados, disse, a organização, em comunicado enviado, ontem, ao Jornal de Angola, pelo coordenador – geral do festival Reinaldo Santana, onde se pretende abordar a diversidade do teatro comunitário, pois seus processos de criações artísticas se dão de várias formas.

Além de reflectir sobre a sustentabilidade dos povos e cidades, ressaltou, a “festa do teatro” vai contar com os participantes das Marcha Afro-ameríndia Americana, Rede Carioca de Cultura Viva, Brasileira de Teatro Comunitário e Redes Latino-Americana de Teatro em Comunidade.

Reinaldo Santana referiu que o encontro se organizou em diversos espaços da cidade do Rio de Janeiro e no formato on-line (streeming), criando um espaço artístico híbrido experimental. No festival, sustentou, vão ser realizados os encontros “O Congresso das Redes de Teatro Comunitário, “Marcha Latinoamericana Afroameríndia”, Montagem Coletiva do Espetáculo João Cândido”, “Grade Artística (presencial e online)” e o seminário sobre “O Teatro Comunitário Brasileiro, Latino-Americano e Africano(presencial e online)”.

A ideia do encontro, segundo o coordenador do festival “é buscar o desenvolvimento dos coletivos e artistas na valorização das propostas nas comunidades, orientando vivências do fazer comprometidas com a autodescoberta e de sua própria expressão.”