Produção de ferro gusa prevista para este ano

Menongue – Depois de sete anos no processo de instalação da Companhia Siderúrgica do Cuchi (CSC), na província do Cuando Cubango, a fábrica dispõe de condições para iniciar, ainda este ano, a produção de ferro gusa, com uma previsão de 250 toneladas/dia.

O ferro guza é o principal bem para a produção de metal ferroso, em associação com outros recursos mineiros, como calcário e magnésio. Nesta primeira fase, cujo “tiro de largada” será no primeiro trimestre do ano em curso, a unidade fabril prevê empregar 170 trabalhadores. Desse número, segundo o director da CSC, Wilson Oliveira, apenas 50 serão estrangeiros, provenientes do Brasil. Segundo o responsável, isso deve-se ao facto de o Brasil ter experiência na produção do ferro gusa, numa associação de ferro e carvão. Faz saber que os estrangeiros terão a missão de trabalhar e ensinar, por forma a aumentar a quantidade de funcionários angolanos na empresa. Ressalta que a presença da empresa no Cuchi, com mais de 40 mil habitantes, representa um contributo para a vida dos jovens dessa localidade e, também, da província do Cuando Cubango e do país. A instituição pretende chegar aos cinco (5) mil empregos, quando estiver completamente a funcionar, já que a segunda fase arranca em 2024. Além de proporcionar emprego, o Estado será um dos principais beneficiários com a arrecadação de receitas, através dos impostos e outras obrigações fiscais, com o fim de se engajar, cada vez mais, na melhoria da saúde, educação e outros serviços essenciais. Menor Manduma, natural do Cuchi, há três anos na CSC, entende ser uma oportunidade ímpar para o Cuxi se desenvolver. A fábrica – revela o jovem entrevistado – vai proporcionar empregos e profissionalizar jovens como ele, contribuindo para o sustento da família. “Eu não sabia fazer nada, hoje sou soldador”, afirma. Com 23 anos de idade e pai de dois filhos, com o rendimento que aufere, diz conseguir adquirir os proventos para a sua família. Por isso, espera que a empresa continue a funcionar para que mais jovens façam parte, sejam do Cuando Cubando ou de fora. Teresa Magalhães, única mulher entre os 450 trabalhadores da fábrica, 400 dos quais carvoeiros, sente-se feliz por estar a exercer o ofício de soldadora, uma profissão tradicional e maioritariamente abraçada por homens. Ele aprendeu a soldar quando trabalhava na empresa petrolífera IREMA, no Cuanza Sul, sua terra natal. “ Está a ser uma experiência positiva e um desafio na minha vida”, expressou. A trabalhar com soldadura há 10 anos, conta que deixou, em 2020, o Cuanza Sul, com destino ao Cuando Cubango na busca de novas oportunidades de emprego, com fé de que iria conseguir. Com 34 anos de idade, entrou para a Companhia Siderúrgica do Cuchi, e espera que outros jovens, em especial mulheres, façam o mesmo. Domingos Vutale, coordenador-adjunto da Mina do Cutato, onde se extraí o mineiro para produção do ferro gusa, está na CSC há 2 anos. Formado em Engenharia de Minas, pela Universidade Mandume Ya Dembofayo, na província da Huíla, considera ser um sonho trabalhar na siderurgia, onde coordenada toda a actividade operativa na mina, da extracção à britagem e ao transporte. Segundo o mesmo, os 32 milímetros de material ferroso são reduzidos para 25, 15 e 10 milímetros, esta última medida indispensável para a se obter o ferro guza. O director geral da indústria, que recepciona o material ferroso reduzido, fez saber que neste momento estão a concluir a parte eléctrica para fazer funcionar os equipamentos em pleno. “Nós temos a casa de máquinas com cinco (5) motores de 200 cavalos, tapetes rolantes, geradores, rodeios e o sistema de carregamento”, disse, antes de acrescentar que, para se fundir o minério ferroso, a temperatura tem de atingir 1.500 graus celcius. Por isso, pretende trabalhar com a energia produzida na própria empresa, razão pela qual dispõem de dois geradores com capacidade de 1.600 KVAs cada que funcionarão alternadamente. Para que não falte energia, contarão também com uma termo-eléctrica, com capacidade de produção de 16 megawatts. Wilson Oliveira disse que o investimento total da Companhia Siderúrgica do Cuchi é de 300 milhões de dólares, sendo que, deste valor, terão já gasto 90 a 100 milhões de dólares aplicados nesta primeira fase de instalação da fábrica. Quando se efectivar a segunda fase do projecto, a indústria vai produzir 1.400 toneladas de ferro gusa/dia. A mina de ferro de Cutato, que dista a 70 quilómetros da zona onde está instalada a unidade fabril, tem como tempo útil de exploração de 50 anos. Quanto ao impacto ambiental, na zona de extracção e na envolvente da fábrica, prevêem o repovoamento, com as árvores da mesma espécie, com o fim de manter o ambiente saudável. Wilson Oliveira indicou que ferro gusa não enfrenta dificuldade na sua comercialização internacional, sofrendo apenas variação de preços em função da dinâmica do mercado. Dá conta de que os principais consumidores do ferro gusa são os Estados Unidos da América e a China. Relativamente à China, informa que a CSC efectuou, a título experimental, no princípio de 2022, três carregamentos de navios com mineiro de ferro bruto, em torno de 150 mil toneladas, através do Porto de Sacomar, na província do Namibe. Esclarece que se fez esse carregamento de mineiro de ferro bruto para o referido país, aproveitando o excedente da produção, já que a fábrica ainda não tem capacidade para utilizar todo o conteúdo extraído.