O significado muito especial da vinda a Luanda de Felipe VI

A visita de Estado dos Reis de Espanha a Angola, de 6 a 8 de Fevereiro, tem um significado muito especial, pois é a primeira vez que se deslocam a um país da África Subsaariana. É, por isso, o melhor exemplo da importância que Espanha atribui às relações com a República de Angola, que consideramos um país amigo e um parceiro prioritário na região.

Durante os dois dias em Luanda, desenvolverão uma intensa agenda que, para além da componente política e simbólica que representa toda a Visita de Estado, terá também uma importante vertente económica e cultural.

A Espanha tem três almas que a definem e projectam como nação. Estamos empenhados e somos parte essencial do processo de integração da União Europeia, um espaço de desenvolvimento, bem-estar e convivência de grande sucesso, que queremos continuar a promover durante o exercício da nossa presidência. É uma união de Estados aberta ao mundo, com vocação para cooperar com os restantes actores e regiões, sempre numa ordem assente em regras e no respeito pelo Direito Internacional.

A Ibero-América, a comunidade histórica e cultural dos países da América e da Europa que compartilham as línguas portuguesa e espanhola, constitui uma das nossas marcas de identidade. Em grande medida, Angola, pela sua história, língua e cultura, está associada a esta comunidade ibero-americana e por isso um país especial para os espanhóis.

A Espanha sempre olha com atenção para o sul, para a África. Somos o país europeu mais próximo do continente africano, enquanto as Ilhas Canárias têm uma projecção mais do que evidente a este continente. Consequentemente, o governo espanhol, a sociedade civil, o mundo empresarial e instituições público-privadas uniram forças para estabelecer um diálogo e uma cooperação com os nossos vizinhos do Sul, tanto no Norte de África e Costa Mediterrânica, bem como nas regiões da África Subsaariana. A Espanha promove, em todos os âmbitos, o olhar necessário da Europa ao Sul.

O Governo espanhol colabora com os vários actores africanos e suas organizações regionais, baseado na confiança e no respeito mútuo, para enfrentar desafios globais, que dizem respeito a todos nós, como o desenvolvimento sustentável e a luta contra a crise de insegurança alimentar, a mitigação das mudanças climáticas, a luta contra o terrorismo e vários tráficos ilícitos. E o fazemos promovendo a defesa dos direitos humanos e a consolidação da democracia.

Com este objectivo, a Espanha sente-se próxima e parceira de Angola. As nossas relações com Angola como Estado independente iniciaram-se em 1977 e, desde muito cedo, com o primeiro governo socialista da democracia, presidido por Felipe Gonzalez, iniciámos um percurso que, ao longo dos anos, nos conduziu a relações sustentadas de amizade e confiança.

Quero destacar o grande esforço que realizou a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento que quase desde o seu início trabalhou em Angola pondo em marcha uma cooperação de emergência que posteriormente evoluiu. Estas excelentes relações bilaterais ganham agora um novo ímpeto com esta histórica Visita de Estado.

Temos tempos complexos pela frente em um cenário internacional que apresenta desafios de longo alcance que devemos administrar a partir de nossos respectivos espaços. São também, tempos de oportunidades que podemos aproveitar para benefício mútuo.

Angola aposta neste segundo mandato do Presidente João Lourenço pela sua diversificação económica, na modernização do Estado e no enfrentamento dos actuais níveis de pobreza. Desde Espanha valorizamos as políticas e as reformas que estão sendo implementadas e acreditamos que nosso país – tanto no sector público quanto no privado – pode desempenhar um papel relevante como parceiro e amigo.

Nesse sentido, as relações comerciais têm um notável potencial de desenvolvimento e nossas empresas – muitas das quais permaneceram no país nos momentos mais difíceis – estão bem preparadas para acompanhar esse processo, enquanto o governo irá ampliar a cooperação financeira bilateral para este efeito.

Também nos são apresentadas oportunidades muito atractivas no campo educativo e cultural, contando com o valioso activo que nos dá pertencer ao mundo da Iberofonia que podemos promover com outros países desta grande família linguística.

Dentro de poucos meses, a partir de 1º de Julho, Espanha assumirá a Presidência do Conselho da União Europeia e a África estará muito presente na nossa agenda. A promoção de investimentos produtivos e transformadores em África, que resultem na criação de empregos dignos, será objecto de atenção uma vez que partilhamos com Angola e outros países africanos a convicção de que o continente necessita de uma maior industrialização.

Em suma, a Espanha está comprometida com Angola como parceiro na região, tanto para avançar nas questões bilaterais quanto para abordar os desafios globais que enfrentamos.

José Manuel Albares (*)

(*) Ministro dos Negócios Estrangeiros, União Europeia e Cooperação do Reino de Espanha.