Cimeira EUA-África começa hoje em Washington

Washington (Dos enviados especiais) – A cidade de Washington, Estados Unidos da América, acolhe a partir desta terça-feira a Cimeira de Líderes EUA-África, que vai analisar os novos caminhos da parceria estratégica entre americanos e os países africanos.

O evento, iniciativa do Presidente norte-americano, Joe Biden, contará com pelo menos 49 líderes africanos e influentes homens de negócios, que vão avaliar, durante três dias, o estado da cooperação e identificar novas áreas de parceria, num quadro mutuamente vantajoso.

A cimeira, da qual participará o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, é uma resposta da administração norte-americana para consolidar o seu espaço em África, numa altura em que aumentam, no continente, os investimentos da China, Rússia, França e Turquia.

Para tal, a Cimeira de Washington terá sobre a mesa temas que marcam a actualidade mundial, como a manutenção da paz, boa governação, democracia e segurança, alterações climáticas, energia e segurança alimentar.

Para os EUA, o encontro permitirá, especificamente, analisar novas fórmulas para trabalhar com os governos africanos, tendo em conta os desafios emergentes do “continente berço”, que continua a enfrentar  grandes desafios em relação à paz e segurança.

De igual modo, a Cimeira abre espaço para a busca de melhores respostas dos EUA no domínio da saúde sustentável e conservação, adaptação climática e transição energética, assim como crescimento inclusivo das comunidades e das tecnologias de informação.

Em concreto, o evento terá vários painéis, como o Fórum da Juventude, da Diáspora e outros em que participarão vários ministros.

Nesse primeiro dia, as atenções estarão viradas para o Congresso Anual da Eximbank, que contará com mais de 100 participantes, entre os quais o Presidente João Lourenço, um dos convidados a intervir.

Para quarta-feira (14), está reservado o Fórum de Negócios, encontro em que o Presidente de Angola deverá intervir no painel relacionado com o tema “Construindo um Futuro Sustentável: Parcerias para Financiar Infraestruturas Africanas e a Transição Energética”.

Outro evento importante será a Cimeira de Líderes, agendada para quinta-feira (15), que vai discutir as parcerias estratégicas para a Agenda 2063, ou seja, a agenda da União Africana (UA).

AGOA na ordem do dia

A Cimeira de Washington estará particularmente virada para a componente económica, representando um novo paradigma na forma como os EUA cooperam com o continente africano.

Nesse sentido, um dos programas a ser analisado com atenção, durante a reunião, será a Lei Africana de Crescimento e Oportunidades (AGOA), promulgada em 2000, que tem estado no centro da política económica dos EUA e do envolvimento comercial com África.

O programa, virado para os países qualificados da África Subsaariana, dá acesso isento de impostos ao mercado dos EUA para mais de 1.800 produtos, e mais de 5.000 qualificados para acesso isento de impostos no programa Generalized System of Preferences.

Trata-se de uma política com rigorosos requisitos de elegibilidade, que exige de cada país interessado reformas contínuas para estabelecer uma economia baseada no mercado, com garantias de progresso nos domínios do estado de direito e pluralismo político.

Para tal, os países devem eliminar as barreiras ao comércio e investimento dos EUA, promulgar políticas para reduzir a pobreza, combater a corrupção e proteger os direitos humanos, a fim de terem acesso às novas oportunidades de mercado.

Nesse sentido, o AGOA ajudou a impulsionar o crescimento econômico, promoveu reformas econômicas e políticas, e melhorou as relações econômicas dos EUA na região, sendo que, até o presente ano, 36 países são elegíveis para os benefícios do programa.

No entender de vários analistas, os estados africanos ainda não estão a tirar o melhor partido do AGOA, ou seja, vantagens, pelo que se adivinham grandes debates em torno desse tema.

América de braços abertos

A propósito da Cimeira, o Presidente Joe Biden afirmou que a mesma demonstrará o compromisso duradouro dos Estados Unidos com África e destacará a importância das relações EUA-África, bem como o aumento da cooperação em prioridades globais compartilhadas.

Numa mensagem endereçada aos líderes africanos, o estadista americano escreve que o evento basear-se-á nos valores compartilhados para promover melhor um novo envolvimento económico; reforçar o compromisso EUA-África com a democracia e os direitos humanos.

De igual modo, refere, ajudará a mitigar o impacto da COVID-19 e de futuras pandemias; permitindo que se trabalhe em colaboração para fortalecer a saúde regional e global; promover a segurança alimentar; a paz e a segurança; além de responder à crise climática mundial.

“Estou ansioso por trabalhar com governos africanos, sociedade civil, comunidades da diáspora nos Estados Unidos e com o sector privado para continuar a fortalecer a nossa visão compartilhada para o futuro das relações EUA-África”, escreveu Joe Biden.

Por sua vez, o ministro angolano das Relações Exteriores, Téte António, disse que a Cimeira representa o virar de uma página na relação EUA-África, sublinhando que os EUA reformulam, com essa iniciativa, a sua forma de relacionar-se com os africanos.

“O paradigma dos Estados Unidos era mais uma reunião anual com a Comissão da União Africana. Houve certas cimeiras, mas que não tinham a substância e detalhes como essa. É uma cimeira bastante abrangente e suigeneris, pela forma como é organizada”.

O ministro angolano entende que a cimeira é, igualmente, uma oportunidade para Angola promover a sua imagem e ganhar credibilidade junto dos órgãos internacionais.

A esse respeito, disse que o Presidente angolano, João Lourenço, está a aproveitar a Cimeira para fazer diplomacia económica, mediante contactos com vários homens de negócios.

“O importante nessas conferências internacionais não é só estar presente nas sessões onde se discutem questões bastante importantes, mas também ver o que se consegue trazer nos corredores e alcançar”, expressou Téte António.