Médicos forenses analisam perfis genéticos de Sita Valles e José Van-Dúnem

Médicos forenses de Lisboa, Portugal, trabalham, desde segunda-feira última, em Luanda, com os técnicos do Laboratório Central de Criminalística de Angola, nos exames dos perfis genéticos das famílias de Sita Valles e José Van-Dúnem, entre outros, mortos em consequência dos acontecimentos do 27 de Maio.

O Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos esclarece, em nota de imprensa a que o Jornal de Angola teve acesso ontem, que a equipa de especialistas forenses foi indicada pelos próprios familiares das vítimas e é portadora das amostras de referência, colhidas em Portugal, para a realização dos exames em Luanda.

Durante a sua estadia no país, a equipa, encabeçada pelo professor Duarte Nuno Vieira, vai interagir com os médicos forenses do Laboratório Central de Criminalística e deve manter um encontro de trabalho com a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP).

No mês passado, antes da Comissão entregar as ossadas de Nito Alves, Sianouk, Monstro Imortal e Ilídio Ramalhete, funcionários da ex-DISA, aos seus familiares, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, fez saber, na ocasião, que no mesmo local, onde foram retiradas as ossadas destes, existiam cerca de 20 corpos.

“O que significa que há mais indivíduos a ser objecto de análise, do ponto de vista genético, para determinar o ADN”, frisou Francisco Queiroz, tendo acrescenta-do que “muitos deles, já

 têm o registo concluído”. “Assim, da nossa parte, o registo de ADN já está concluído, falta apenas cruzar esse registo com o das famílias que residem em Portugal”, esclareceu, referindo que as famílias vão fazer o envio do material genético (sangue), que já está recolhido, “e far-se-á, quando chegar, o cruzamento com os dados do ADN que estão à nossa disposição”.

Na altura, foi referido que o registo havia ficado em Portugal. No entanto, no quadro das actividades de confirmação das amostras, a equipa de especialistas portugueses está no país para determinar a correspondência de sangue. “O registo não veio com os técnicos de Portugal, porque as famílias indicaram um especialista, na verdade um professor em quem confiam. Não nos opomos, porque queremos dar a esse processo, toda a transparência, segurança técnica e científica”, frisou o ministro, acrescentando: “As famílias são livres de escolher esse modelo que, pode atrasar um pouco, se não fosse isso, possivelmente, seriam entregues mais corpos, e não apenas os quatro antigos dirigentes”, havia explicado, na altura, Francisco Queiroz.

Devolução da identidade em situações de conflito 

No último dia de trabalhos, em Luanda, o professor Duarte Nuno Vieira fará uma prelecção sobre “a devolução da identidade em situações de desastres e conflitos, enquadrada na abordagem “A acção forense humanitária”, indica a nota do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos. Nesta senda, a equipa tem reservado um momento para esclarecimentos à comunicação social.


Irmão de Sita Valles louva iniciativa do Executivo

Edgar Francisco Dias Valles , irmão de Edgar Ademar Valles e Sita Maria Dias Valles, assassinados na sequência dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, considera “positiva” a iniciativa de reconciliação e homenagem às vítimas dos conflitos em Angola.

Residente em Lisboa (Portugal), Edgar Valles propôs, na altura, a emissão de certidões de óbito, localização e devolução dos restos mortais às famílias. Destaca o facto de os irmãos, em especial a Sita Valles, se terem empenhado generosamente na fase final da luta de libertação nacional, que culminou na Independência do país, a 11 de Novembro de 1975, e no subsequente período de reconstrução nacional.

O presidente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), informou que, a seu pedido, reuniu com Edgar Valles, em Lisboa, quando escalou a capital lusa com destino a Cabo Verde, onde tomou parte dos trabalhos da Conferência dos Ministros da Justiça da CPLP.

“O encontro realizou-se a meu pedido. Estivemos mais de uma hora a conversar. Transmiti toda a informação sobre o projecto, o consenso nacional que obteve e os resultados que já produziu. Disse-lhe que o propósito é perdoar e reconciliar”, afirmou Francisco Queiroz, que é, também, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos.

O ministro apontou, a propósito, as dificuldades para a localização dos corpos e consequente identificação. Convidou, na altura, Edgar Valles a participar nas reuniões da Comissão, mas este manifestou indisponibilidade, tendo indicado o sobrinho, órfão de Sita Valles e Zé Van-Dúnem, que lecciona em Angola, na Universidade Católica. 

Fonte: JA Online