Pedro Pires diz que apartheid foi destruído em Angola, o que revela o “papel histórico do Presidente José Eduardo dos Santos”

Antigo Presidente de Cabo Verde destaca legado da construção do Estado angolano, salvaguarda da integridade territorial, paz e bases para o desenvolvimento

WASHINGTON — 

José Eduardo dos Santos deve ser recordado como um grande estadista, que conseguiu a paz para Angola, lançou os fundamentos e criou as instituições para que o Estado angolano fosse forte e uma potência regional e que deu uma contribuição extraordinária para a independência da Namibia e para o fim do apartheid na África do Sul.

Com esta leitura, o antigo Presidente e ex-primeiro-ministro de Cabo Verde, Pedro Pires, resume em declarações à VOA a figura do antigo Presidente de Angola, também amigo pessoal dele.

“A imagem que guardo dele é a de um grande africano, com quem tive a oportunidade de discutir diversas coisas e apercebi-me que era um grande patriota africano e que queria de todas as maneiras a libertação de África e, particularmente, a libertação de África do regime do apartheid”, diz Pires quem considera que Angola, África e “nós, os países amigos de Angola, perdemos um amigo e a contribuição de um grande estadista”.

Derrota do apartheid em Angola

O papel de José Eduardo dos Santos é igualmente realçado pelo antigo Presidente cabo-verdiano no período da guerra fria, em que conseguiu ganhar a guerra e construir a paz, destacando, por exemplo, que “na África Austral teve um papel muito importante na independência da Namíbia e da mudança do regime na África do Sul.

Aliás, para Pedro Pires, “o apartheid foi derrotado em Angola, particularmente na batalha do Cuito Cuanavale”, o que “dá-nos a ideia do papel histórico do Presidente José Eduardo dos Santos”.

Como “patriota sincero, devemos respeitar e cabe-me render-lhe essa homenagem, dar importância à sua personalidade, ao seu amor grande e desejo grande de lutar pelo continente africano”, diz aquele combatente pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, para quem outro aspecto do legado de Santos tem a ver com a construção de Estado angolano.

A construção do Estado

Pedro Pires lembra que José Eduardo dos Santos assumiu a Presidência quando tinha apenas 38 anos de idade e com um país em guerra, mas, mesmo assim, “dotou Angola de um Estado forte, eficaz, com instituições sólidas que garantissem a unidade do país a estabilidade do país, que foram fundamentos para perspectivar o futuro”.

“Dou muita importância ao Estado, sólido, com unidade nacional, que promova o desenvolvimento e, depois, todas as reformas necessárias, e ele dotou Angola de todos esses predicados”, sublinha o Comandante Pires.

Quanto a Cabo Verde, o antigo Presidente fala de uma “uma dívida de gratidão” em relação a Santos, “que era muito amigo” e que tinha “uma relação sentimental muito grande para com Cabo Verde”.

“Não somos santos…”

Pedro Pires lembra que, aquando da mais recente erpução vulcânica na ilha do Fogo, em 2014, o então Presidente angolano “colocou em Cabo Verde um avião para permitir a ligação Praia-Fogo e ofereceu ao Governo muito material de construção para a reconstrução de residências e estabelecimentos destruídos”.

Na hora de analisar a obra de José Eduardo dos Santos, que o antigo Presidente cabo-verdiano diz ser de suma importância em África, Pedro Pires reconhece que, como homens públicos, “não somos santos, cometemos erros, temos limitações, mas o importante é ver os aspectos fundamentos do legado de José Eduardo dos Santos, que fez de Angola uma potência regional, um Estado credível, com forças armadas funcionais, apesar de muita ingerência externa para que assim não acontecesse”.

Pires também recorda José Eduardo dos Santos no campo pessoal dizendo que “parece que era tímido”, mas que como amigos “era muito aberto, éramos francos um com o outro” e sublinha que “às vezes a imagem do homem do Estado falseia a verdadeira dimensão do homem humano”.

Não sendo Santos amigo das viagens, Pedro Pires recorda que conseguiu levar o então Presidente angolano a Cabo Verde, para ser homenageado com a condecoração mais alta de Cabo Verde.

Fonte: VOA