Ex-Presidente “foi um homem aberto às liberdades religiosas”

O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), D. Manuel Imbamba, destacou, sexta-feira(8), as qualidades do ex-Chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, como “um homem aberto e respeitador das liberdades religiosas e de tudo aquilo que a pessoa humana devia cultivar como valor digno para a realização plena da própria vida”.

D. Imbamba, que regia à TPA à morte, ontem, de José Eduardo dos Santos, aos 79 anos, acrescentou que o ex-Presidente da República  foi uma figura aberta às sensibilidades da nossa sociedade, propensa ao diálogo, à paz, à reconciliação e à unidade nacional.

“Deixa um grande legado como homem que reunia consenso, pacifista, de coração, embora, nos últimos tempos da sua presidência, não tenha conseguido segurar a barca como devia segurá-la. Pronto…, são lembranças e memórias”, disse.

Para o prelado católico, José Eduardo dos Santos “marcou a História recente do nosso país, no bem e no mal”.”Foi um Chefe de Estado à altura do momento contextual em que o país estava a viver. Soube dar o melhor de si, da sua sabedoria, do seu génio, do seu ser animal político de alguma craveira, soube marcar a diferença nos propósitos que Angola devia ganhar e conquistar”, reconheceu.

O também arcebispo de Saurimo considerou que o ex-Presidente da República conseguiu reunir à volta de si todo este acervo religioso que o país tem, “embora, infelizmente, a dado momento, tenha escancarado as portas em que tudo de mau e bom entrou”.

Pediu aos angolanos que rezem pelo ex-Chefe de Estado “para que Deus tenha misericórdia dele e que o acolha no Seu Reino de Glória”. Defendeu que todos devem juntar-se em torno do legado deixado por José Eduardo dos Santos, que tinha uma visão de unidade, reconciliação nacional e de paz. “Este legado ultrapassa partidos, diferenças e querelas”, referiu.

D. Manuel Imbamba defendeu que estes valores sejam enaltecidos “para que continuemos a ser nós mesmos a batalhar por uma Angola irmanada, fraterna, desenvolvida e capaz de incluir todos os seus filhos e filhas nos projectos de desenvolvimento e de realização”.

Jornalista Siona Casimiro fala em “perda sem igual”

O jornalista Siona Casimiro considerou a morte de José Eduardo dos Santos “uma perda sem igual” para o país, “não só por ter sido Presidente da República, mas, também, um diplomata”.

Entre as boas memórias, afirmou, estão as conquistas na diplomacia, que vão além do partido e do país. “Até à véspera da Independência Nacional, José Eduardo dos Santos trabalhou muito pelo reconhecimento da diplomacia angolana”, disse.

O jornalista declarou que sempre viu “José Eduardo dos Santos como um camarada de luta”. “Desejo que a alma dele descanse em paz”, disse, acrescentando que o ex-Presidente “é o responsável por muita da memória colectiva nacional, em especial a ligada à defesa da Pátria”.

Siona Casimiro, formado pelo Centro de Formação Profissional de Jornalismo (CFPJ) de Paris, estagiou na agência congolesa de notícias e trabalhou em vários órgãos, fora e dentro do país, entre os quais France Press, Angop, Panapress e Associeted Press.

CASA – CE

“Maior feito foi o alcance da paz

O Colégio Presidencial da CASA-CE refere, em nota de condolências, ter sido com “enorme consternação” que tomou conhecimento da morte do ex-Presidente da República.

O órgão de cúpula da coligação liderada por Manuel Fernandes “lamenta com sentido pesar a eterna partida de José Eduardo dos Santos, para muitos um amigo, companheiro, político e estadista cujo maior feito do seu percurso político à frente dos destinos de Angola e dos angolanos  assenta na concretização da paz, alcançada a 4 de Abril de 2002”.

“Diante do tamanho infortúnio, o Colégio Presidencial da CASA-CE curva-se perante a memória do ex-Presidente.

Líder da UNITA manifesta consternação e suspende actos

O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior, manifestou-se, ontem, em Luanda, consternado com a morte do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, ocorrida, em Barcelona, Reino de Espanha, por doença. “Numa altura destas, é momento de podermos exprimir e dirigir à família e a todos os angolanos os nossos sentimentos de pesar”, disse à imprensa, à margem do acto de abertura de uma reunião entre o seu partido e a Internacional Democrática do Centro (IDC). O político sublinhou o empenho de José Eduardo dos Santos na busca da paz, frisando que foi sempre possível explorar pontes de diálogo, entre o seu partido e o então Chefe de Estado, que permitiram acabar com a guerra, há 20 anos. Em obediência ao período de luto nacional, a UNITA suspendeu as suas actividades programadas para os próximos sete dias.

Tchizé dos Santos, filha: “Os pais nunca morrem”

Welwitschia “Tchizé” dos Santos, filha do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, escreveu, ontem, nas redes sociais, minutos após o anúncio da morte do pai, que “os pais nunca morrem” e “vivem para sempre” nos filhos. “Os pais nunca morrem porque são o amor mais verdadeiro que os filhos conhecem em toda a vida. Eles vivem para sempre dentro de nós”, escreveu Tchizé dos Santos, na rede social Instagram, numa mensagem acompanhada por uma colagem de fotografias antigas da família.

Tribuna política mundial

Em Dezembro de 1976, Angola tornava-se no 146º Estado  membro da maior tribuna política mundial, facto que permitiu ao então Primeiro Vice-Primeiro Ministro, José Eduardo dos Santos, discursar perante a magna Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, Estados Unidos da América.

José Eduardo dos Santos, que já havia sido ministro das Relações Exteriores por um ano (Novembro de 1975-Novembro de 1976), proferiu um discurso em que apelava para a necessidade do tratamento igualitário no contexto internacional. O então representante da Missão Permanente de Angola junto da ONU, embaixador Elísio de Figueiredo, dirigindo-se ao Conselho de Segurança, sublinhou que a entrada de Angola na ONU era resultado da coragem heróica, do sacrifício e do sangue vertido por milhões de angolanos, homens, mulheres e crianças que lutaram por uma vida, para transformar um sonho em realidade.

Umaro Embaló

O Presidente de Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, sublinhou que José Eduardo dos Santos é uma figura de dimensão internacional, um “líder ímpar”, que lutou pela causa de África.

Pedro Pires


O antigo Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires, recorda José Eduardo dos Santos como uma “figura central” na “grande mudança” na África Austral.

Zacarias da Costa

O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CPLP, Zacarias da Costa, considerou a morte de José Eduardo dos Santos como uma “grande perda para Angola e para o mundo da Língua Portuguesa”.

Bernardino Manje e Adriano de Melo