O Parque Nacional do Iona, cuja nova sede de apoio foi inaugurada ontem, no município do Tômbwa, província do Namibe, pelo Presidente da República, João Lourenço, prevê atrair 34 mil turistas por ano e neste período arrecadar 700 mil dólares em receitas directas.
Os dados foram avançados pelo responsável da ONG AfricanParks, Pedro Monterroso, durante a cerimónia de inauguração da nova sede de apoio ao Parque, testemunhado, também, pela Primeira-Dama da República, Ana Dias Lourenço, membros do Executivo e representantes do Corpo Diplomático acreditado em Angola.
João Lourenço, que chegou ao Parque Nacional do Iona a bordo de um helicóptero, teve o cunho de sinalizar o processo de repovoamento da área de conservação da biodiversidade. O Chefe de Estado fez o acto de reintegração de 13 girafas, recentemente adquiridas na vizinha República da Namíbia.
Nas duas translocações de animais muito bem-sucedidas foram transportados, até agora, para o Parque do Iona, 27 girafas, espécie que estava extinta na região do Namibe há mais de 100 anos.
Os resultados, segundo o responsável da ONG sul-africana, indicam um progresso substancial na conservação da biodiversidade e no fortalecimento das capacidades locais, destacando os benefícios tangíveis da parceria entre a AfricanParks e o Governo de Angola.
Momentos depois, o Presidente da República tomou contacto com a diversidade da fauna e flora do Parque do Iona, antes de proceder ao corte da fita, que simbolizou a reabertura oficial das portas ao turismo do maior projecto na vertente da conservação da fauna e da flora selvagem e dos mais extensos parques do país, com uma área de 15.150 quilómetros quadrados.
Com a construção das novas infra-estruturas de apoio ao Parque Nacional do Iona, a ONG AfricanParks investiu 2,5 milhões de dólares, de um total de 11,7 milhões aplicados desde o início do projecto. A estimativa é que até ao final deste ano a empresa responsável pela gestão do parque invista perto de 15,5 milhões de dólares.
De igual modo, a empresa gestora reabilitou e manteve 276 quilómetros de picadas no interior do parque. A nova sede inclui 20 edifícios residenciais e de apoio e seis operacionais.
De acordo com dados apresentados na cerimónia inaugural por Pedro Monterroso, foi feito um investimento total em aprovisionamento de cerca de 3,3 milhões de dólares, dos quais 83 por cento foram investidos na província do Namibe.
Até agora, segundo o responsável, foram pagos cerca de 1,27 milhões de dólares em impostos ao Estado, 39 por cento dos quais ao IRT, 5% em retenção na fonte, 20 por cento para o INSS e 36 por cento em IVA. Estes números, disse, reflectem o compromisso do Parque Nacional do lona em contribuir para o desenvolvimento económico e social da região e do país como um todo.
Impacto em conservação
Na dimensão da conservação da biodiversidade, os resultados, de acordo com o gestor do Parque do Iona, são notáveis, tendo assinalado o facto de a infra-estrutura possuir uma lista actualizada da fauna, com mais de 500 espécies de vertebrados, representando um aumento de 67 por cento em relação às 300 que eram conhecidas em 2019.
“Temos 47 indivíduos de diferentes espécies, como girafas, zebras, orix, gazelas e abutres, marcados com colares GPS”, explicou, esclarecendo em seguida que os movimentos dos animais são registados, diariamente, e geraram até agora mais de 45 mil registos de presença.
No espaço, a AfricanParks instalou, igualmente, uma rede de foto-armadilhagem, que produziu um total de 1,5 milhão de registos, fornecendo dados valiosos para monitorização e investigação.
A ONG especializada na gestão e reabilitação de áreas protegidas, com um histórico de sucesso incontestável, no decorrer das acções de fiscalização removeu um total de 98 armadilhas no terreno e, por meio do engajamento com as comunidades, conseguiu recuperar 95 armas de fogo e 923 munições, entregues à Polícia Nacional, acto que permitiu contribuir, significativamente, para a segurança de pessoas e animais na região.
A inclusão da comunidade residente no processo de reabilitação do parque tem sido fundamental para evitar a caça furtiva.
A equipa de fiscais foi aumentada de 19 para 34 membros, complementada por uma equipa adicional de 37 monitores de vida selvagem das comunidades locais, facto que representa um aumento de 268 por cento da capacidade de vigilância e protecção do parque. As patrulhas do espaço cumpriram um total de 14.367 dias de patrulhamento activo no campo, resultando em 69 detenções de infractores.
Desenvolvimento comunitário
A ONG AfricanParks está na gestão do Parque Nacional do Iona a cumprir, também, uma agenda de responsabilidade social com as comunidades locais.
A população residente no parque totaliza, agora, pouco mais de 6.500 pessoas, quase o dobro do estimado em 2020, altura em que foi estabelecido o contrato.
De modo a facilitar os objectivos de conservação da biodiversidade no Iona, foram realizadas 2.051 reuniões de sensibilização, das quais 1.833 visitas a “sambos” para sensibilização sobre temas ambientais, e 218 reuniões comunitárias para auscultação e integração das preocupações das comunidades na gestão do parque.
“Apoiamos 316 crianças, estudantes das escolas primárias no parque, por meio de merendas escolares e bolsas de estudo, com um foco especial no incentivo à escolaridade feminina”, assegurou Pedro Monterroso.
No Parque Nacional do lona residem, além da diversidade biológica, diversas comunidades locais, como os povos Ovahimba e Mucubal. Estas comunidades mantêm vivas a sua riqueza cultural e o profundo conhecimento deste ecossistema.
Durante a cerimónia de inauguração da nova sede do parque, fizeram-se representar entoando cânticos e danças típicas da comunidade que integram.
Turismo e arrecadação de receitas
O desenvolvimento do turismo no Parque Nacional do lona tem sido gradual, com alguns desafios enfrentados pela AfricanParks, nos primeiros anos, principalmente devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19 e à fase inicial de implementação de sistemas e reabilitação de infra-estruturas.
Apesar do número de visitantes, as receitas totais foram de apenas 37 mil dólares, números que, segundo o gestor da infra-estrutura, representa menos de 1% das despesas operacionais anuais do Parque do lona. “Estratégias estão a ser elaboradas para rever a receita e a auto-sustentabilidade do parque a longo prazo”, disse.
Os desafios assumidos, acrescentou, reflectem a necessidade contínua de desenvolver e fortalecer a infra-estrutura turística no Parque do lona, enquanto se busca um equilíbrio entre a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento do turismo sustentável em Angola.
Pedro Monterroso admitiu que o desenvolvimento do turismo tem sido tímido, garantindo que a AfricanParks e o Governo estão a trabalhar, activamente, para superar quaisquer constrangimentos e promover o desenvolvimento como prioridade estratégica.
Nos últimos dois anos, disse, o Parque recebeu cerca de 6.600 turistas, dos quais 3,35 por cento foram visitantes estrangeiros, tendo esclarecido que a maioria destes são visitantes autossuficientes da Namíbia, África do Sul e expatriados que trabalham em Angola, facto que diz ser indicador do potencial do mercado nacional e internacional a ser explorado.
Projectos em curso
A gestão do Parque Nacional do Iona prevê construir, em breve, 12 parques de campismo, todos com qualidade e comodidades adequadas, como instalações sanitárias e chuveiros.
O objectivo é disponibilizar, pelo menos, 30 camas em dois lodges no interior do parque, com foco especial na criação de um lodge de luxo nas margens do rio Cunene.
Gestão da infra-estrutura está assente em três pilares
O responsável da ONG AfricanParks, gestor do Parque Nacional do Iona, Pedro Monterroso, esclareceu, ontem, que o modelo de gestão da infra-estrutura está assente em três pilares essenciais, nomeadamente a conservação da biodiversidade, desenvolvimento das comunidades e geração de receitas.
O primeiro pilar, sobre a conservação da biodiversidade, disse, corresponde a todas as actividades de conservação, incluindo as de restauro dos ecossistemas.
“Isto inclui, também, garantir que as leis de conservação são respeitadas, através de equipas de fiscalização profissionais e bem equipadas”, elucidou.
Pedro Monterroso referiu que no que diz respeito ao segundo pilar, relativo ao desenvolvimento das comunidades, baseia-se numa estratégia que pressupõe engajamento, educação e economia.
“Este pilar visa engajar, sensibilizar e promover o desenvolvimento sustentável das comunidades locais associadas ao Parque Nacional do lona, proporcionando um contexto para a melhoria das condições de vida e o fortalecimento do vínculo entre conservação da biodiversidade e bem-estar humano”, disse.
Em relação ao terceiro pilar, da geração de receitas, o gestor da ONG sul-africana AfricanParks esclareceu que o mesmo desempenha um papel crucial na garantia da sustentabilidade económica, a longo prazo, das áreas protegidas.
Pedro Monterroso acrescentou, ainda, que a “geração de receitas” é fundamental para garantir que “o Parque Nacional do lona possa operar com reduzido investimento externo a longo prazo, contribuindo para a sua autossuficiência financeira”, assegurando a sustentabilidade económica, enquanto promove a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento das comunidades locais.
A AfricanParks reconhece a importância da gestão eficaz e da infra-estrutura adequada para o sucesso das operações. E, nesse aspecto, destacou como componentes para o sucesso o planeamento, desenvolvimento e melhoria de infraestrutura.