Angola defende compensação aos países vítimas do colonialismo

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, defendeu, terça-feira, em Accra, Ghana, a necessidade dos países africanos lançarem uma Agenda Africana para promover a justiça e o pagamento de reparações decorrentes do colonialismo.

Ao intervir, em representação do Chefe de Estado, João Lourenço, na Conferência de Reparações, que decorre até sexta-feira em Accra, Adão de Almeida considerou a referida Agenda um mecanismo importante que vai permitir aos “nossos países fazer ouvir bem alto a uma só voz, a voz de África e a voz da justiça”.

Ao mesmo tempo em que as partes lançam bases para uma Agenda sobre a reparação justa pelos danos causados por vários séculos, os países africanos vítimas do colonialismo precisam de assegurar que a história seja contada às novas gerações, para que jamais se repita.

Adão de Almeida, que destacou a necessidade de um esforço conjunto de todas as nações africanas vítimas do jugo colonial na busca de reparações compensatórias, alertou para as novas formas de colonização que precisam de ser evitadas, sob pena de reservar novamente os Estados à condição de objecto.

Na conferência, subordinada ao tema “Construindo uma frente unida para promover a causa da justiça e o pagamento de reparações aos africanos”, o ministro de Estado considerou as reparações uma questão de justiça  para com a história do continente e de respeito pelos seus antepassados.

“A história da humanidade regista, nas suas mais tristes páginas, séculos de colonização em que alguns povos ocuparam territórios de outros, subjugaram os povos nativos, pilharam recursos naturais, impuseram padrões culturais estranhos e comprometeram o futuro de várias nações”, referiu, considerando que a ocupação colonial retirou aos povos africanos a condição de sujeito e transformou-os em objecto.

Neste sentido, citou o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, aquando da Conferência da Organização de Unidade Africana (OUA), de 1978, tendo sublinhado que “África parece um corpo inerte, onde cada abutre vem debicar o seu pedaço”. Adão de Almeida enfatizou, assim, que mais do que erros históricos, a colonização e a escravatura foram dos maiores crimes contra a humanidade.

O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República lembrou que Angola foi colonizada durante quase cinco séculos e, durante os 500 anos, o angolano foi subjugado, razão pela qual, desde sempre, os seus  antepassados ousaram resistir com os meios disponíveis à ocupação colonial.

“Naquela altura, não éramos nós próprios, não tínhamos direitos, não tínhamos capacidade de decidir sobre o nosso destino. Era necessário resgatar a nossa condição de ser humano a qualquer custo. A Independência não foi oferecida, foi o resultado da luta dos angolanos, que contou com a solidariedade africana, e não só, do sangue de muitos, da perda dos melhores filhos do nosso país, do luto de muitas famílias. Hoje, somos independentes há 48 anos, e somos donos do nosso próprio destino”, realçou o ministro de Estado, que representa o Chefe de Estado no evento.

Contudo, prosseguiu, não se pode apagar o passado, nem ignorar o enorme prejuízo que a colonização causou aos países africanos e aos seus povos. “Nunca saberemos que África teríamos hoje, se não tivesse havido a colonização e a escravatura, assim como nunca saberemos o que seriam hoje as então chamadas potências colonizadoras. Mas sabemos, com certeza, que ambos seriamos diferentes”, sublinhou.

Os danos da colonização do tráfico de escravos e do apartheid para os países africanos vítimas do colonialismo, acrescentou,  foram materiais, mas, sobretudo, imateriais. “Foram vidas e por isso não são quantificáveis. Não os poderemos avaliar e não haverá compensação possível para reparar o curso que a história alterou”, frisou.

À margem da Conferência, Adão de Almeida foi recebido em audiência pelo Chefe de Estado ganense, Nana Akufo–Addo, a quem entregou uma mensagem oficial do Presidente da República, João Lourenço.

A Conferência, que visa identificar oportunidades de colaboração na causa das reparações e justiça, registou intervenções notáveis de Chefes de Estado e de Governo africanos, com destaque para o anfitrião, Nana Akufo–Addo, do Chefe de Estado das Comores e presidente da União Africana, Azali Assoumani, e dos Primeiros-Ministros dos Barbados, Mia Mottley, Victoire Dogbé do Togo e do Quénia, Musalia Mudavadi, respectivamente. Contou, ainda, com a participação dos ministros de vários países africanos.