Um dos grandes problemas na circulação dos cidadãos em África tem sido a questão dos vistos, situação que o Presidente do Quénia disse ter sido solucionada unilateralmente e que o homólogo angolano aplaudiu, sábado, em Nairobi.
“Assumimos o compromisso de aproximar mais as nossas nações e as pessoas, em particular os homens de negócios. E um dos grandes problemas tem sido a questão dos vistos, conforme o Presidente Ruto acaba de mencionar”, reiterou João Lourenço.
Em declarações aos jornalistas, o Presidente da República de Angola agradeceu o facto de o Quénia, de forma unilateral, ter adiantado já a isenção de vistos não só os diplomáticos como, também, os ordinários para os cidadãos angolanos entrarem livremente no território queniano.
“Nessas questões, em princípio, deve haver reciprocidade e dissemos ao Presidente Ruto que no regresso a Luanda vamos analisar com todo o cuidado a possibilidade, também, de estendermos os vistos diplomáticos, que acabamos de assinar aqui (em Nairobi), a outro tipo de vistos”, observou João Lourenço.
Nesta primeira visita de Estado de um Presidente angolano ao Quénia, desde as Independências dos povos, o mais alto mandatário da Nação tranquilizou o homólogo queniano: “Pode ficar descansado, Senhor Presidente Ruto, por ser uma matéria não fechada. A porta está aberta. De regresso a Luanda vamos dar tratamento a este assunto, uma vez que a assinatura poderá acontecer em qualquer momento, aqui e/ou em Luanda”.
Paz em África e situação nos Grandes Lagos
Outro assunto amplamente abordado no “frente a frente” com William Ruto foi dos trabalhos conjuntos para a pacificação de África e o Presidente João Lourenço sublinhou os esforços até aqui empreendidos pelos dois países na resolução de conflitos.
“Angola e o Quénia estão a trabalhar num processo delicado, que é o processo da pacificação do Leste da RDC. É um dossier de alguma forma complicado, mas não impossível. E, por esta razão, estamos optimistas em como, juntos, vamos conseguir encontrar a paz, não apenas na RDC, mas de uma forma geral em toda a região dos Grandes Lagos, uma vez que este conflito não é meramente interno, mas afectou, lamentavelmente, as boas relações que existiam entre a RDC e o Rwanda. Estamos a trabalhar para revertermos esta situação”, assegurou.
Ainda assim, João Lourenço disse ter verificado, com o homólogo queniano, resultados positivos: “Mas, chegamos a um ponto em que não podemos parar. Temos que dar o passo seguinte e é isto que estamos a trabalhar. Estamos empenhados em continuar, não desistir, para que este passo, que está a faltar, seja dado e, finalmente, se consiga a tão almejada paz ali no Leste da RDC, por um lado, e que se consiga restabelecer as boas relações de amizade e de cooperação que existiram no passado entre esses países irmãos (RDC e o Rwanda)”.
Já em conferência de imprensa, a que se seguiu ao pronunciamento depois da assinatura dos instrumentos jurídicos, explicou as diferenças existentes nos processos de pacificação da República Democrática do Congo (RDC) assumidos por Angola e pelo Quénia.
Reiterou os esforços conjuntos para ajudar os “irmãos da RDC” no alcance da paz, esclarecendo que a diferença entre os dois processos é que o de Nairobi é mais completo e o de Luanda tem a ver apenas com a situação do M23.
“Este é o mandato que recebemos da União Africana, que deu a Angola um mandato de lidar apenas com o caso M23. É do conhecimento de todos que no Leste da RDC existe um elevado número de grupos que lutam contra o poder central, são dezenas. Já o processo de Nairobi lida com todos eles, é o mandato que têm”, disse João Lourenço.
O Presidente angolano reconheceu ter-se obtido grandes progressos, mas lamentou a estagnação do processo num ponto: “Precisamos de conseguir o acantonamento do M23. Enquanto isso não for conseguido, corremos o risco de os ganhos alcançados até aqui puderem vir a perder-se no futuro. E, não queremos que isto aconteça”.
Sobre o mesmo assunto, João Lourenço referiu que o que se conseguiu foi obtido à custa de um grande sacrifício de todos, não apenas de medianeiros, mas também das partes (congolesas, rwandesas e o próprio M23).
“Não queremos que haja um retrocesso no processo. Não deve ficar estagnado, muito menos retroceder. Mas, temos de avançar para o passo seguinte, que é importante que aconteça: o acantonamento do M23. Continuamos optimistas que vai acontecer mais tarde ou mais cedo. Tem de acontecer, a bem da paz naquele país e em toda aquela região”, aludiu o Presidente sobre o ponto de situação da crise na RDC.
Enquanto isso, William Ruto ressaltou a necessidade de manter a paz, a segurança e a estabilidade na Região dos Grandes Lagos e no continente como um todo.
“Os nossos dois países colaboraram eficazmente no âmbito do Acordo Internacional da Conferência sobre a Região dos Grandes Lagos. Também afirmamos o compromisso de defender a soberania e a integridade territorial de Estados e rejeitar mudanças inconstitucionais de Governos, bem como a interferência nos processos políticos internos dos países de África por forças externas”, vincou o Presidente queniano.
Presidência da União Africana
O Presidente da República, João Lourenço, no último dia da visita de Estado ao Quénia, recebeu garantias de apoio total deste país do Leste de África à candidatura ao posto máximo da União Africana.
“Deixa-me aproveitar esta ocasião para agradecermos, publicamente, a disponibilidade que o Quénia demonstra em apoiar a candidatura de Angola à presidência da União Africana em 2025”, anunciou o estadista angolano.
Nas declarações que se seguiram à assinatura de 11 instrumentos jurídicos, num acto testemunhado por João Lourenço e William Ruto, o Chefe de Estado angolano retribuiu os votos, tendo assegurado, também, apoio à missão atribuída ao Quénia para as acções de paz das Nações Unidas.
“Estamos do lado do Quénia na missão que vai cumprir, por incumbência das Nações Unidas, num país irmão, de maioria negra, de descendentes de África, no Haiti”, enalteceu, afirmando que, pela experiência do Quénia no cumprimento de missões de manutenção de paz em outras localidades, está certo de que, também, esta, no Haiti, será exitosa.
Neste particular, o Presidente angolano disse que existe a vontade de ajudar aqueles “irmãos que, infelizmente, estão a atravessar uma situação de instabilidade interna que é preciso corrigir”.
William Ruto convidado a visitar o país
Antes de deixar Nairobi, onde esteve a convite do homólogo queniano, William Ruto, o Presidente da República, João Lourenço, disse, ontem, que Angola espera a visita do estadista do Quénia.
O convidado de Ruto acrescentou que a visita de Estado à República de Angola depende da ocasião que melhor entender e que for negociada entre as duas diplomacias. “Estamos abertos e esperançados que esta data será para breve, para que possamos consolidar o início da troca de visitas a este nível entre os Chefes de Estado de Angola e o do Quénia”, informou João Lourenço.
Visita ao Mausoléu
O Chefe de Estado angolano, João Lourenço, visitou, antes de deixar, ainda ontem, Nairobi, o Mausoléu de Jomo Kenyatta, o primeiro Presidente do Quénia. Nesta deslocação, o Presidente fez-se acompanhar da Primeira-Dama, Ana Dias Lourenço, tendo depositado uma coroa de flores no túmulo de Jomo Kenyatta.