Transfiguração total de Angola baralha as defesas de Rwanda

Transfiguração total. Assim se descreve o desempenho da Selecção Nacional sénior feminina de basquetebol no segundo jogo do grupo preliminar ‘A’ da 26ª edição do Afrobasket, Rwanda’2023. A equipa liderada por José Freixa foi a senhora da noite no Arena de Kigali. Diante do olhar de Paul Kagame, Presidente da República, as angolanas arrearam ontem as saias das anfitriãs por 74-68, quando perdiam ao intervalo por 22-38.

O espírito de guerreira contagiou as heroínas angolanas que rejeitaram o papel de animadoras da série A. O silêncio imposto a 4500 espectadores espelha a grandeza da força da juventude feminina em Angola.

A vitória de Angola é incontestada. Nenhuma alma presente arriscava uma ficha por Angola. A corrente do jogo no final do segundo quarto, depois do anúncio da presença do Chefe de Estado local, teve sentido único. As anfitriãs galvanizaram-se e sufocaram as forasteiras.

A pressão foi sol de pouca duração. Os árbitros mandaram para os balneários as equipas e salvaram as angolanas. As rwandesas venciam por uma margem de 16 pontos. Era o intervalo maior.

Um santo remédio para as pupilas de José Frestas. Do histórico dos dois primeiros quartos, ficou o modo atabalhoado nos instantes finais. No balneário, Freixa manteve um diálogo motivador.

No reatamento, as angolanas apareceram transfiguradas. As posturas defensiva e ofensiva surpreenderam até aos adeptos angolanos, alguns dos quais já estavam descrentes na vitória. O pouco ruído emitido, sem exibir utensílios como os demais, em decorrência do número reduzido, foi mola impulsionadora para o grupo em campo.

A veterana Nadir Manuel foi a grande “culpada” da reviravolta angolana ao apontar “duplo-duplo”, 21 pontos e 10 ressaltos. Sara Caetano (17 pontos) e Cristina Matiquite (16) são “co-arguidas” no processo.

Só no segundo tempo, Angola apontou 45 ressaltos o que fez o total de 71, um recorde mundial, segundo especialistas da FIBA, que já tinham contabilizado o mesmo número no jogo em que a Nigéria venceu o Egipto.

“Hoje, Angola está de parabéns, não só pela vitória conseguida a ferro, mas também por ter feito 71 ressaltos, um recorde mundial, curiosamente, batido duas vezes num só dia por Angola e Nigéria”, disse o ivoiriense Malik Daho, jornalista ao serviço da FIBA África.

O seleccionador nacional José Freitas agradeceu a felicitação e retorquiu: “Nunca na minha vida, em 40 anos de carreira, vi um jogo com 71 ressaltos”.

Ao tempo regulamentar, as equipas empatavam a 64 pontos. No prolongamento, a Selecção Nacional recorreu à experiência de Cristina Matiquite, Nadir e Sara Caetano, quase intocáveis em todo o segundo tempo, e escancarou as portas dos quartos-de-final. O aparente  estado de  cerradas foi destruído com ataques continuados.

A perspectiva era defrontar Moçambique, nas classificativas de amanhã, mas a vitória catapultou a selecção de todos os angolanos para o segundo lugar do grupo ‘A’ e defronta a Guiné, terceira do grupo ‘B’.

  ARBITRAGEM
África do Sul domina indicações

A República da África do Sul domina o quadro de árbitros indicados pela FIBA África para a 26ª edição do Campeonato Africano de Basquetebol (Afrobasket Rwanda’2023) com dois especialistas a ajuizar em Kigali.

O país não está a competir na prova e esse é o traço de diferença com a Côte d’Ivoire que também trouxe ao Rwanda dois árbitros, além do supervisor técnico Julien Farran.

Ao todo, 18 árbitros participam no Afrobasket, dos quais dois são neutros. Johnny Batista (Porto Rico) e Julio Anaya (Panamá) são os sul-americanos que actuam com a bandeira da neutralidade.

Angola está representada por Cláudio Anderson, do Huambo, que foi o primeiro a apitar, incluído no trio que ajuizou ao jogo de estreia da competição. No segundo dia, foi nomeado para actuar no vídeo árbitro. Ontem, esteve no trio do jogo entre o Egipto e Nigéria. 

Eis os demais árbitros inscritos: Sara Elshamouby (Egipto), Fanta Toure (Mali), Erick Omoundi Otieno (Quénia) Nadege Zouzou e Benedicte Kologo (Côte d’Ivoire), Nadjet Zenagui (Argélia), Christelle Madjio (Camarões), Haythman Ihaoaf (Líbia), Arbia Belghith (Tunísia), Dider Gaga (Rwanda), Seye Mbaye (Senegal), Maiga Harouna (Burundi), Arnold Moseya e Natascha Onono (África do Sul) e Joyce Annie (Zimbabwe).

  POSTAL
Arminda Joaquim é caçula da prova

Arminda Joaquim, t.c.p Wandy, é a mais nova atleta inscrita no Afroabsket’2023. A extremo da selecção nacional, formada na Academia do 1º de Agosto, tem 17 anos e deseja tornar-se “numa grande jogadora internacional”.

Completados a 26 de Fevereiro, a angolana partilha a idade com a egípcia Jana Sallman. Um senão lhe dá o estatuto da mais nova. A menina faraónica festejou as primaveras em Janeiro.

A aparente timidez de Wandy nas abordagens, a obediência às recomendações da equipa técnica e das colegas mais velhas, o olhar inocente, as brincadeiras e a responsabilidade na hora de jogar disfarçam a sua meninice escamoteada numa envergadura de 1,81 metros e 69 kg.

Depois de actuar na selecção de Sub-16, Arminda pode esfregar as mãos de contente: só depende de si mesma materializar o sonho de “grande jogadora”.

A jogadora mais jovem de sempre da história dos Afrobasket é a nigeriana Aisha Mohammed, que jogou com 14 anos. Mohammed foi campeã pela Nigéria em 2003 (Moçambique), 2005 (Nigéria), 2017 (Mali) e 2019 (Senegal). Aisha terminou a carreira, depois dos Jogos Olímpicos de Tóquio’2020, aos 34 anos.

Do lado das mais adultas no Rwanda, a senegalesa Aya Traoré, 40 anos, detém a coroa do Afrobasket’2023.