Feira da Banana: Quando os grandes mostram o que fazem

Os grandes produtores agropecuários do Bengo (Novagrolíder, Turiagro e Fazenda Filomena) desfilaram na 9ª Edição da FEIBA, com um pacote que incluiu, sobretudo, qualidade de produtos em relação à quantidade.

O procedimento obedeceu a critérios diversificados, mas a inclinação apenas para a exposição e não para a venda, deu espaços a que os produtores individuais, cooperativas e outros participassem sem o músculo dos “gigantes” a afrontá-los.

A Novagrolíder, passe a publicidade, apresentou um stand onde privilegiou a estética e a apresentação cuidada de produtos para cativar possíveis compradores. Aliou paisagismo e postura de mercado, atributo quanto baste para chamar atenção. O timbre invisível ” não há venda” ainda assim prendeu a atenção dos visitantes, porque a qualidade dos produtos diversos dá mesmo água na boca.

Com produtos fora do circuito mercantil, valeu a cortesia e diplomacia do gerente José Macedo, que do alto do seu profissionalismo falou à Comunicação Social sem rodeios. Para o gestor, o próximo passo da empresa passa pelo aumento das áreas de produção com o objectivo de crescer. O portfólio do grupo assinala a Novagrolíder de Porto Amboim, no Kwanza-Sul, ” Uma empresa com três anos de implantação, já com  grandes áreas de plantio, viradas para a exportação. Está no bom caminho, porque tem bom clima, solos e água”, disse.

” Nós colocamos diariamente muito produto no mercado nacional, mas a nível percentual se formos a ver o país o nosso contributo é pequeno. Quanto à exportação, vai no bom caminho. A nossa porta de entrada para a Europa é Portugal, depois acaba por se estender para todo o mercado ibérico. Há seis meses realizamos a primeira exportação para a França. Estamos a nos implantar no mercado gaulês a tentar a afirmação como marca de Angola”, confidenciou ao Jornal de Angola o gestor que abraça a ideia da aposta na exportação para a diversificação da economia.

Outra variante a que a Novagrolíder não descarta é a variante venda a retalho, com a abertura de duas lojas em Talatona, ” para estarmos mais próximos do cliente com a nossa qualidade, com normas onde se destaca a higiene e a segurança alimentar para não dependermos de terceiros neste segmento de mercado.”

A vizinha e, igualmente, grande produtora de fruta a Turiagro, que ocupou um espaço no mesmo passeio, à semelhança da Novagrolíder, passeou classe e fez da exposição de produtos o forte da sua participação. A aposta na exportação continua a ser o cavalo de tróia da empresa que vende produtos agrícolas em espaços comerciais de Luanda, Huíla e Huambo.

Um milhão de ovos em Dezembro

A Fazenda Filomena é outro dos “colossos” da economia das terras do Jacaré Bangão na vertente pecuária. Ana Maria Manuel, a gerente, em conversa com o Jornal de Angola deu a conhecer que “já temos as duas naves, que entram em actividade daqui a dois meses, para a produção de um milhão de ovos até Dezembro. Estamos na montagem de outras naves para a produção de frangos de corte em 2024. Produzimos fertilizantes orgânicos, sem qualquer adicionante químico, que aos poucos conquista o seu nicho de mercado”, anunciou a responsável, que se congratulou com a organização da Feira,” que apresenta um quadro concorrido, com muitos participantes, o que é bom para o ambiente de negócios.”

A ninguém passou despercebido o stand apinhado de clientes, ávidos na aquisição de produtos da empresa de direito angolano que emprega 450 trabalhadores, com apenas 11 expatriados, segundo Ana  Maria Manuel, rosto feminino que empresta valor e responsabilidade à cadeia de comando da empresa.

Moageiras “made in Angola”

Os factores de produção que incluem máquinas, equipamento, fertilizantes e afins, apresentaram-se de forma tímida, contabilizando um total de dez empresas, sem os pesos pesados habituais, com máquinas de grande porte. Entretanto, a empresa Quintas Comercial Lda destacou-se com a apresentação de máquinas de descasque de ginguba e uma moageira com capacidade de transformar 300 quilos de crueira em fuba em uma hora, segundo o gerente Quintas Vasco Curianguila, que garante” nós testamos o equipamento, a durabilidade do aço, potência dos motores, martelos. Temos dados consistentes da qualidade.”

Os dois artefactos “made in Angola” têm mercado. A moageira Mbombo (esta é a designação do produto), segundo o entrevistado: “Há três meses vendemos seis  máquinas no Nóqui, zona fronteiriça com o Congo Democrático, onde temos conhecimento que o produto está a ser cobiçado, sendo uma das nossas paragens a breve trecho.”

Sobre o processo de fabrico da moageira, Quintas Vasco Curianguila frisou que foi possível” com a recolha de know how de produtos importados, por parte de cinco mecânicos da empresa”. Utilizamos chapas galvanizadas e apenas o motor é importado. Pensamos estender o nosso negócio com a produção de debulhadoras para o descasque de arroz, café,  feijão. Para o desiderato precisamos requerer um financiamento de 50 milhões de Kwanzas.”

Palestras

A FEIBA é, igualmente, um espaço de angariação de conhecimentos. O ciclo de palestras com temas pertinentes à vida sócio-cultural, hábitos e costumes, ainda potencialidades locais prende a atenção dos visitantes, que não arredam pé e dão muito do seu tempo para adquirir conhecimentos.

A organização do evento, esmerou na escolha dos temas e prelectores. Assim que  já foram abordados temas como ” Agricultura e desenvolvimento sustentável” na voz do  biólogo Miguel Cambundo, que passo a passo deu a conhecer a cadeia de produção e a continuidade manter os proventos da terra à mesa dos cidadãos, um processo possível com preparação de terras e aplicação de know how, sem   grandes custos para a agricultura familiar, hoje por hoje o suporte da produção nacional.

A Utilidade nutricional da banana foi o tema apresentado pela Dra. Paulina Semedo, em que a prelectora teve o cuidado de interagir com os presentes, apontando os benefícios da qualidade de vida, saúde e consumo de produtos naturais, sobretudo frutas.

Já a comunicação sobre o impacto e transmissão do vírus “Top em Leque” coube ao Eng. Txecanaie Robertino, um expert no assunto, que fez parte da equipa que um pouco pelo país, ajudou a prevenir os estragos que a maleita provoca ao bananal. O prelector, de forma detalhada, transmitiu informações que ajudam os criadores do produto a lidar com uma doença do fórum agrícola, ainda sem cura, cujo tratamento  conta com o derrube  das plantas.

Director Provincial da Agricultura reconhece crescimento da Feira da Banana

Até à tarde do segundo dia do evento, pelo menos, 70 toneladas de produtos diversos tinham sido vendidos e, de acordo com director do Gabinete Provincial da Agricultura e Pescas, Faustino Ngonga, o objectivo é comercializar um total de 300 toneladas de produtos diversos até ao encerramento do evento. O outro objectivo que se pretende superar, segundo Faustino Ngonga, é superar o volume de negócios para 50 milhões de kwanzas, contra os 26 da Edição anterior.

Faustino Ngonga disse que em termos agrícolas, a província do Bengo está bem, porque estima que nos últimos tempos regista um crescimento acelerado na produção de diversos produtos de campo, tendo em conta que de 2018 a 2022 esta cifra passou de 600 toneladas para um milhão e 136 toneladas de produtos diversos.

Na entrevista ao Jornal de Angola, fez também saber que, deste modo a província tem registado um grande crescimento, principalmente nas culturas de mandioca e banana, produtos de bandeira do Bengo.

Quanto à Feira propriamente dita, o director adiantou que o objectivo é superar a oitava Edição em termos de quantidade e qualidade.

Deu a conhecer que este ano se retomou a realização do certame, após o Covid-19 e os seis municípios participaram nesta edição com variados produtos agrícolas com a participação de quatro províncias das onze anunciadas inicialmente, nomeadamente Uíge, Zaire, Luanda e Bié.

Produtos do mar

Quanto aos produtos do mar, o director do Gabinete da Agricultura e Pesca disse que a província está bem, mas desde 2019 que nãos se dá prosseguimento ao segmento industrial e semi-industrial, realçando que na região só se pratica a pesca artesanal marítima e continental, justificando que se deve por falta de uma ponte cais que serve para a descarga do pescado.

“Por questão operacional achou-se por bem os operadores fazerem as descargas na ponte de cás da Bela Vista”, disse.

Referiu que, a pesca industrial e semi-industrial depende somente das condições do embarque, e enquanto não se tiver uma ponte cais não é possível fazer esse tipo de pesca.

” O governo provincial está a trabalhar em conjunto com o Ministério das Pescas, no sentido de arranjar financiamento e empresários que possam investir no segmento industrial”, disse.

Quanto ao nível de captura, Faustino Ngonga disse que o Bengo tem bons níveis de captura porque a costa litoral da região é rica em pescado.

A província do Bengo captura entre 180 e 200 toneladas por ano e em 2021, a safra foi de 230 toneladas de pescado.

“A província do Bengo tem de tudo um pouco, mas os mais capturados na região são o carapau, sardinha, a pescada, a marionga, linguado, o pargo e o cachucho”, referiu.

De acordo com o director, a província conta com um total de 187 cooperativas agrícolas e 156 associações e o sector da pesca controla 1.050 pescadores artesanais marítima e 1170 da pesca continental.

Em relação à Feira, salientou que um dos objectivos é mostrar o que a província tem no sector agrícola e em outros e estabelecer intercâmbios e parcerias entre vários produtores e empresariais.

Nambuangongo

Até ao meio-dia de sábado o município de Nambuangongo já tinha vendido as cerca de 161 toneladas que trouxe para a Feira.

É para dizer que esta Feira está a ser um sucesso em termos de negócios.

De acordo com o Administrador Municipal ,Domingos João Lourenço é uma grande alegria ter todas as vendas logo no segundo dia do evento.

“Fica aqui o compromisso de aumentarmos a cada ano agrícola a produção no nosso município”, disse. Referindo-se à produção, acrescentou que Nambuangongo está muito bem, com alta produção, mas  lamentou o mau estado das vias de comunicação que não oferecem condições para a evacuação efectiva dos produtos para os mercados dos principais centros urbanos.

Dande em grande

O administrador municipal do Dande, Afonso Miguel Canga disse que o seu município  está a evoluir ano após ano em termos de produção agrícola, alberga as grandes empresas agrícolas como  a Novagrolíder, A Turiagro, a Fazenda Filomena, a Rega Bengo e outras que contribuem para o crescimento do sector a nível do município do dande e da província em geral.

“Temos é a lamentar as condições de algumas vias que não favorecem o escoamento de produtos para as grandes superfícies de consumo.”

Pango Aluquem

Pango Aluquém levou para a Feira 61 toneladas de produtos diversos como abacaxi, ginguba, maracujá mandioca, além da banana.

Em termos de produção o administrador municipal, Francisco Falo confirmou que o seu município é potencialmente agrícola, produz de tudo um pouco, por isso acredita que este ano tenha uma safra calculada em mais de mil toneladas de diversos produtos. 

Dembos

De acordo com Administrador local, Joaquim Cangulo, o município está com boa produção este ano. Produziu-se de tudo um pouco, principalmente o abacaxi, a maracujá, a mandioca , a ginguba, alguns citrinos e a própria banana.

Sem adiantar as previsões dos dados sobre a safra no presente ano agrícola, simplesmente limitou-se a dizer que o município produziu muita comida, e como todos os outros,  apenas lamentou a falta de boas vias de comunicação para facilitar o escoamento das zonas de produção para as zonas de consumo e a perda da produção nos campos, lavras e fazendas.

António Canepa e Alfredo Ferreira