Aposta nas reformas macroeconómicas vão garantir subida de Angola no rating

O director da agência de notação financeira “Fitch Ratings” para África e o Médio Oriente, Toby Iles, disse que a capacidade do Governo angolano manter as reformas macroeconómicas num contexto de descida do preço do petróleo será determinante para a evolução no rating.

Ao se pronunciar numa conferência virtual sobre a evolução das economias africanas, Toby Iles afirmou que “as reformas orçamentais, monetárias e económicas que foram feitas com sucesso, assim como o preço do petróleo, têm sido a chave para a recuperação económica, ajudaram a pagar a dívida e contribuíram para uma apreciação muito significativa do kwanza”.

“A perspectiva de evolução da economia de Angola é positiva e o gatilho para uma eventual subida no rating serão a resiliência e a confiança com que o Governo vai manter o ímpeto nas reformas mesmo quando os preços descerem”, sublinhou o gestor.

Respondendo às questões da Lusa sobre a opinião da Fitch Ratings em relação à situação financeira de Angola, o analista acrescentou que “é preciso mais evidências sobre a capacidade de manter a liquidez externa, porque as reservas não subiram muito com o preço alto” do petróleo, que são o principal contribuidor para as reservas internacionais em moeda estrangeira.

Evolução do rating

Em Janeiro, a Fitch Ratings melhorou a perspectiva de evolução do rating de Angola para positiva, mantendo a opinião sobre a qualidade do crédito soberano em B, abaixo da recomendação de investimento.

“A perspectiva de evolução positiva reflecte a recente queda abrupta da dívida pública, grandes excedentes da balança corrente e riscos de financiamento mais baixos, sustentados por um ambiente petrolífero mais favorável”, lê-se na nota que acompanhou, em Janeiro, a decisão de manter o rating em B-, dois níveis abaixo da recomendação de investimento.

Na conferência, os analistas salientaram que apesar de 2023 não ser um ano muito pesado em termos de maturidade da dívida soberana, os dois próximos anos serão difíceis para uma boa parte dos países que enfrentam o final do prazo dos empréstimos e terão, portanto, de pagar a totalidade do que pediram ou emitiram nos mercados financeiros internacionais.

“Em 2024 haverá mais pressão financeira sobre os países, com o Quénia, Egipto e Etiópia a terem de pagar mais de dois mil milhões de dólares cada, e 2025 será ainda mais difícil, com vários países a enfrentarem a maturidade da dívida”, alertou o analista. Questionado sobre de que forma os países africanos estão a lidar com o aumento das taxas de juro e com o impacto da subida do preço do petróleo e da inflação, nomeadamente dos bens alimentares, Toby Iles salientou a importância da consolidação orçamental.

“A consolidação orçamental é crucial, estão a tentar desbloquear os mecanismos que permitem aumentar a mobilização de receitas internas, o que é muito difícil historicamente, e estão mais focados na gestão das finanças públicas, ao mesmo tempo que tentam manter e até acelerar o crescimento económico”, afirmou, salientando que “a outra opção é reestruturação” da dívida.

Os pagamentos da dívida externa dos países mais pobres, incluindo todos os lusófonos africanos, vão subir para o valor mais alto desde 1998, representando 16,3 por cento do total das receitas, mais do que duplicando desde 2011.

“Os pagamentos da dívida externa de 91 países vão ser, em média, de 16,3 por cento das receitas fiscais este ano, aumentando para 16,7 por cento em 2024, um aumento de 150 por cento desde 2011”, de acordo com uma nota de análise da Organização Não-Governamental (ONG) Debt Justice, dedicada às questões da dívida sustentável, de Abril.

A Fitch Ratings, detida pelos donos da consultora Fitch Solutions, analisa 22 países em África, 19 dos quais na África Subsaariana e, destes, quase metade (45 por cento) têm um rating de CCC ou estão em incumprimento financeiro, o que evidencia os “níveis significativos de risco de crédito na região”.