África constrói mercado comum para sair da dependência das importações

Africa está, neste momento, a construir um mercado comum, com a operacionalização da Zona de Comércio Livre Continental Africana, para sair da dependência das exportações, uma realidade que afecta 38 dos 55 Estados-membros da União Africana.

Em entrevista à imprensa angolana presente na 36ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, a comissária Josefa Sacko disse que África precisa de mudar a narrativa, impulsionada pelos recentes choques e crises globais, para atingir os objectivos das agendas 2030 e 2063.

Conforme recordou, África comprometeu-se em colocar já daqui a mais sete anos o comércio intra-africano numa posição de até 30 por cento de trocas inter-países.

“Estamos a ver um país como a Zâmbia, que de muito importadora, acelerou a sua ambição com a implementação da Zona de Comércio Livre, e agora está a produzir e a incentivar a juventude, através de modelos e políticas públicas atractivas, acesso ao financiamento e todo um ecossistema favorável ao negócio”, indicou como exemplo. 


Compromissos concretos

Numa outra e anterior intervenção à RFI, Josefa Sacko, que é comissária da União Africana para a Agricultura, Economia Rural, Economia Azul e Ambiente, disse esperar que o comunicado final da 36ª Cimeira da União Africana, que encerra hoje, com a presença de 55 Chefes de Estado e de Governo do continente africano, consiga mobilizar mais recursos para acabar-se com a fome.

Josefa Sacko mostrou-se satisfeita com o facto de a União Africana ter decidido estender o ano dedicado à nutrição, que decorreu em 2022, até 2025. Todavia, quer que desta cimeira saiam compromissos concretos.

“Gostaria de ver afirmações muito concretas sobre isso. A crise alimentar está na agenda e agora os Estados estão a ver que tem de se fazer alguma coisa. O nosso relatório foi bem recebido e reforçado pelos países-membros e acredito que o comunciado final desta cimeira vai servir para mobilizar mais recursos. O problema conhecemos e a solução temos, não podemos estar sempre a estender a mão, o dinheiro existe nalgum lado e temos de investir se queremos ser credíveis e assegurar um futuro melhor”, declarou à RFI.

 Em África, existem, actualmente, 282 milhões de pessoas subnutridas, muitas delas crianças, o que Josefa Sacko qualifica como “um facto de urgência”, especialmente quando o continente tem capacidade de produzir muito mais alimentos do que o faz neste momento.

“60 por cento da terra aravél não cultivada está em África. Temos muita juventude e recursos hídricos. É inadmissível que tenhamos 38 países importadores de produtos alimentares”, afirmou.

 
Segurança alimentar

A comissária fez saber que a questão da segurança alimentar entrou definitivamente nas agendas mundiais, mas especialmente em África, onde as consequências da pandemia e da guerra se têm sentido de forma acentuada.

“Tivemos o choque da pandemia da Covid-19. Os nosso países importam o arroz e durante a pandemia tudo foi cancelado na exportação. Não tínhamos esses produtos para dar de comer à população. Consumimos muito arroz e isto foi uma lição. A segunda lição é a guerra da Ucrânia e a Rússia, até é inadmissível que um continente com 1,4 mil milhões de habitantes importe de um país com 43 milhões de habitantes”, indicou.

 Para responder a isso, além dos fundos, é preciso mais investigação, já que muitos países africanos são também assolados pelas alterações climáticas. Algo que, segundo a comissária, pode ser contornado com mais pesquisa e adaptação das culturas agrícolas.

“É preciso investigação e temos de investir. A decisão é também dos Chefes de Estado e é por isso que eu peço 1,0 por cento para a área da Pesquisa”, concluiu.