Presidente da SADC defende plano para a interligação dos países da região

A SADC deve desenvolver um plano de construção de infra-estruturas robustas, que permitam a interligação entre os países da região, por forma a colher os benefícios recíprocos das capacidades e potencialidades de cada um dos Estados-membros, defendeu, nesta sexta-feira, em Gaborone, o Chefe de Estado angolano e Presidente em exercício da organização, João Lourenço.

O Presidente de Angola, que discursava durante o encontro com os membros do Secretariado Executivo da SADC, na sede da organização, afirmou que a mobilização de recursos financeiros, para a ampliação e melhoria da infra-estrutura rodoviária, sobretudo das auto-estradas que interligam os países da região, deve estar no centro das atenções para o sucesso das trocas comerciais entre os Estados-membros.

“Não podemos deixar de referir que a nossa região deve procurar desenvolver um plano de construção de infra-estruturas robustas, de ampliação e de melhoramento das já existentes”, ressaltou.

João Lourenço disse, também, ser dever da organização procurar explorar ao máximo o grande potencial energético que os países da região dispõem, mobilizando fontes de financiamento para projectos de construção de barragens hidroeléctricas, centrais eólicas e fotovoltaicas para a construção das linhas de transportação da energia produzida em alguns países para outros.

O Presidente revelou, a propósito, que nos últimos anos Angola vem aumentando consideravelmente a oferta de energia eléctrica de centrais hidroeléctricas e parques fotovoltaicos, dispondo já de um considerável excedente de produção de energia eléctrica, que deve ser colocado ao dispor da região, para ajudar a suprir a crise energética que alguns dos países da SADC enfrentam.

“Daremos um passo importante em matéria de integração regional, com benefícios tangíveis, se os nossos países se articularem no sentido de mobilizarmos recursos financeiros para a construção de linhas de transmissão de energia eléctrica para a região, por via da rede de distribuição de energia da África Austral”, sustentou o líder da SADC.

Os esforços de industrialização, acrescentou João Lourenço, que serão concretizados principalmente com base nos recursos minerais, agrícolas e outros de que a região dispõe, abundantemente, passam pela electrificação dos países, sublinhando que só será possível acontecer “se todos contribuirmos para a operacionalização do Fundo para o Desenvolvimento Regional da SADC”.

O Presidente de Angola recorreu ao exemplo do Corredor do Lobito, um projecto que “tem estado no centro das atenções do Executivo angolano” e dos países da região, designadamente a RDC e a Zâmbia, mas também de parceiros internacionais, para dizer que “facilitará o escoamento”, por via do Oceano Atlântico, dos principais produtos de exportação dos países mencionados, como contribuirá, também, para a revitalização e a dinamização de vários empreendimentos com impacto na economia da região.

Objectivos da visita

A visita à sede da SADC, na qualidade de Presidente em exercício da organização, segundo o Chefe de Estado angolano, serviu para dizer aos membros que “estou aqui”, com um sentimento de grande satisfação por ter a oportunidade de, a partir do “quartel-general”, falar com os quadros, que todos os dias fazem funcionar a instituição com eficácia e com resultados que colocam a SADC a um nível bastante alto, entre as várias organizações subregionais do continente.

João Lourenço felicitou, por isso, de forma muito especial, o secretário-executivo e os demais quadros que compõem a equipa e fazem dela “o centro nevrálgico da instituição”, de onde, sublinhou, “emanam importantes projectos e um sem número de iniciativas que dinamizam o seu papel incontornável na construção das bases sobre as quais assentam os pilares da integração regional dos países da África Austral”.

O Presidente em exercício da SADC destacou o empenho, vigor e excelente trabalho realizado no âmbito do Plano Indicativo Estratégico de Desenvolvimento Regional, cuja implementação disse estar a decorrer “com a eficácia que temos vindo a observar e com uma função inquestionavelmente impulsionadora do progresso e do desenvolvimento da região”.

Comércio inter-regional

O Chefe de Estado angolano abordou a agenda de integração, ressaltando que merece um grande destaque o papel que a facilitação do comércio inter-regional assume como factor de progresso e de desenvolvimento. Em face disso, entende que a organização deve prestar especial atenção à simplificação de processos que levem ao normal funcionamento da Zona de Livre Comércio, de modo a aproximar os países dos índices estabelecidos no Protocolo de Integração Regional.

Embalando na mesma visão, o Presidente João Lourenço agradeceu a forma zelosa como o Secretariado Executivo da SADC tem actuado em apoio ao cumprimento das suas funções de Presidente em exercício, admitindo que foi graças ao trabalho colectivo que se tornou possível realizar, com sucesso, a Cimeira Ordinária dos Chefes de Estado e de Governo em Agosto de 2023, a Cimeira Extraordinária sobre a Situação Política e de Segurança na Região, em Novembro de 2023, e a mais recente, realizada no mês de Maio, dedicada à análise sobre o impacto da cólera e do fenómeno El Niño na África Austral.

O líder da SADC deu ênfase ao facto de o secretário-executivo e a sua equipa revelarem, permanentemente, um alto nível de vigilância e atenção a todas as ocorrências e fenómenos que se registam na região, realçando, em função disso, a desencadearem acções, iniciativas e respostas rápidas e eficazes destinadas a mitigar e a resolver os efeitos nocivos que resultam dessas situações.

“Registo com muito agrado o facto de o Secretariado, em cumprimento das directivas da organização, estar a levar a efeito uma política de igualdade de género bastante consistente, em cujo âmbito se verifica uma participação de mulheres que ronda os 60 por cento ao nível da direcção”, frisou João Lourenço, que fez questão de agradecer a forma calorosa como foi recebido.

João Lourenço augurou, no entanto, que se continue a trabalhar de forma coordenada e com o esforço de todos, no sentido de a SADC estar cada vez mais forte e preparada para a realização do grande objectivo da plena integração.

Endereçou, a terminar, “as mais sentidas condolências ao povo do Malawi”, em consequência da morte trágica do Vice-Presidente da República, Saulus Chilima, vítima de acidente de aviação.

Instabilidade na RDC continua a ser uma grande preocupação

A instabilidade persistente no Leste da República Democrática do Congo (RDC) continua a ser a principal preocupação da liderança da SADC, revelou o Presidente em exercício da organização, João Lourenço.

O estadista angolano entende ser incontornável que se refira às questões relativas à paz e à segurança na região, tendo como foco a situação reinante na RDC, onde, nos últimos tempos, se vem registando um preocupante agravamento do conflito no Leste daquele Estado-membro da SADC, com consequências que afectam directamente todo o processo de desenvolvimento e integração dos países da região.

“Gostaria aqui de enfatizar o compromisso assumido pela nossa organização no sentido de enviar um destacamento das Forças da Brigada Reforçada da SADC, cujo objectivo principal é o de ajudar este país irmão a encontrar os caminhos mais rápidos para a estabilidade, contribuindo assim para a pacificação total da nossa região”, reiterou João Lourenço.

De igual modo, referiu que no âmbito da paz e segurança, foi possível notar que o panorama actual em Moçambique é consideravelmente mais tranquilo e estável, por força, também, do desdobramento das forças da SADC que, em apoio às Forças de Defesa daquele país, têm desenvolvido um trabalho digno de registo no combate ao terrorismo e ao extremismo violento na província de Cabo Delgado.

“Aproveito esta tribuna para saudar os Estados-membros que contribuíram financeiramente e com o envio de efectivos para estas duas missões, bem como para deixar uma mensagem de solidariedade aos países de que são originários os soldados que perderam a vida nestas missões”, ressaltou.

Os êxitos registados até ao momento, disse João Lourenço, não seriam possíveis se a SADC não contasse com o apoio e a entrega de cada um dos Estados e de cada um dos soldados colocados naquelas zonas.