UNITA quer abandonar CIVICOP

A UNITA anunciou, quinta-feira, a pretensão de abandonar a Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), criada pelo Executivo, e propôs uma plataforma plural semelhante à da África do Sul, então coordenada pelo bispo Desmond Tutu.

Em conferência de imprensa, o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, explicou as motivações da saída do partido na CIVICOP, alegando que a sociedade angolana deve debater “a história com verdade e espírito de reconciliação, para que o perdão seja genuíno e duradouro”.

Segundo o político, tal só será possível com a criação de uma comissão da verdade, do perdão e da reconciliação. Para o presidente da UNITA, “a violência, seja qual for a forma e a contínua estigmatização dos adversários políticos”, não constitui a via para a concórdia e para a construção entre os angolanos.

“O partido declina a participação na CIVICOP, por permanecer refém dos interesses espúrios do regime, como temos observado em diversos eventos e situações, ocorridas ultimamente, não servindo, assim, para os fins que presidiram à criação: os da reconciliação nacional e da pacificação dos espíritos em Angola”, justificou.

No entender do líder da UNITA, de um tempo a esta parte, o partido do “galo negro” verifica desvio nos objectivos, métodos e princípios pelos quais considera que se deveriam guiar os trabalhos da Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP).

Acrescentou que denunciou as práticas: “Porém, nos últimos dias, o povo angolano voltou a assistir, novamente, a uma incessante operação de busca e profanação de sepulturas em territórios que estiveram sob administração da UNITA, no tempo da guerra civil, fora dos marcos e regras que devem reger o funcionamento da CIVICOP”. 

Reacção de analista político

Em reacção à saída da CIVICOP, o analista José Pakisse Mendonça disse, ontem, à TPA crer que, com ou sem a UNITA, a Comissão não vai parar, pois, além do partido do Galo Negro, o órgão de homenagem às vítimas dos conflitos políticos congrega mais organizações, entre as quais da sociedade civil, religiosas e outras personalidades. 

“Acredito que vão prosseguir com o trabalho. E, por outro lado, isso não é novidade. Já é uma situação que a UNITA nos habituou”, frisou, recordando que, através da Jura, se retirou do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), mas esta organização continua com a marcha. 

“A UNITA nunca reconheceu as eleições realizadas no país, desde 1992, mas no Parlamento, depois de muito barulho, toma posse. Está na Comissão Nacional Eleitoral e outros organismos de paridade ou de proporção conforme as leis do país. O que podemos verificar é que, se for uma organização em que se pode encontrar benefícios financeiros, a UNITA não se retira”, destacou o analista político.

 Segundo José Pakisse Mendonça, “quando é um organismo colegial sem dividendos financeiros a UNITA se retira, assim como fez na CNJ e agora na CIVICOP”.