Os Sona “desenhos e figuras geométricas na areia”, arte milenar do povo Lunda Cokwe, foi elevado, ontem, em Kasane, no Botswana, a Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), confirmou ao Jornal de Angola o investigador Jorge Dias Veloso, membro da delegação angolana.
A confirmação foi feita, ontem, durante a décima oitava sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que decorre desde o passado dia 3 até domingo, no Cresta Mowana Resort, em Kasane, República do Botswana.
A delegação de Angola é composta pela secretária de Estado da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, pela embaixadora Permanente de Angola junto da UNESCO, Ana Maria de Oliveira, pela embaixadora de Angola no Botswana, Beatriz Morais, pela directora do Instituto Nacional do Património Cultural ( INPC), Cecília Gourgel, e pelo investigador científico da Universidade Lueji A’Nkonde , sedeada na província da Lunda-Norte, Jorge Dias Veloso.
Dois anos depois de terem sido declarados como Património Cultural Imaterial Nacional, nos termos do Decreto Executivo 99/21, de 20 de Abril, o Executivo angolano, através do Ministério da Cultura e Turismo, em coordenação com a Universidade Lueji A’Nkonde, remeteu a candidatura dos Sona à UNESCO, para o reconhecimento mundial.
A par da cidade de Mbanza Kongo, capital da província do Zaire, elevada à categoria de Património Mundial da Humanidade, Angola acaba de inscrever o seu nome no conjunto da riqueza imaterial mundial.
Os Sona passa a ser o primeiro Património Cultural Imaterial da Humanidade inscrito por Angola na UNESCO e o segundo sobre a Matemática, tendo em conta que o primeiro e, até então, único pertence à China.
Na sua intervenção na décima oitava sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, Angola felicitou o Bureau do Comité e o Secretariado da Convenção pelos trabalhos preparativos da sessão e esforços contínuos para o seu êxito.
Angola salientou, igualmente, que houve uma melhoria nos critérios de avaliação, uma vez que houve um aumento no número de patrimónios africanos a serem inscritos, “o que diminui a sub-representação dos países africanos na lista do património cultural imaterial, um trabalho que não termina aqui, mas que apresenta resultados positivos”.
“Como tal, Angola continua a apelar a uma maior cooperação entre países e instituições, permitindo assim minimizar a distância existente, e fazer com que todos se sintam devidamente representados na lista do Património Cultural Imaterial”.
A UNESCO, realçou, tem um papel fundamental neste processo, procurando formas de assegurar assistência técnica e financeira de forma contínua, de modo a reforçar a capacidade das instituições dos países que necessitem, sempre com o objectivo de que se consiga alcançar uma representatividade equilibrada e que realce as riquezas culturais dos países em desenvolvimento.
“O património cultural imaterial de cada um dos países africanos é de extrema importância para o Patrimônio Cultural Mundial, tendo um impacto significativo para as comunidades e para os povos em geral, merecendo por isso ser divulgadas. Além disso, muitas destas culturas, como as africanas, tiveram uma grande influência sobre diversos povos e culturas ao redor do mundo”.
A décima oitava sessão do Comité Intergovernamental para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial da UNESCO, que decorre até domingo, em Kasane, República do Botswana, examinará as candidaturas para o registo de 55 novos elementos apresentadas por 72 Estados- membros.
Reconhecimento mundial
O investigador e representante da candidatura do Sona, pela Universidade Pública Lueji A’Nkonde, Jorge Dias Veloso, contactado pelo Jornal de Angola, via telemóvel, a partir de Kasane, disse que estão lançadas as bases para a promoção do turismo cultural na Lunda-Norte e outras localidades do Leste do país.
O investigador defendeu, por outro lado, que agora mais do que nunca, a riqueza cultural do conhecimento ancestral deve ser transmitida de geração a geração, com vista à valorização do estatuto científico e cultural.
O processo tendente ao resgate e valorização dos Sona, disse, foi conduzido em três etapas, inicialmente com a sua declaração a Património Nacional, depois a dimensão mundial e, por último, com acções para a sua salvaguarda, com o objectivo de se evitar a extinção da prática nas comunidades.
Entre as medidas levadas a cabo pelas autoridades angolanas, figuram trabalhos relacionados com estudos que reconhecem a geometria Sona, como importante recurso pedagógico e científico.
Jorge Dias Veloso sublinhou que as acções para a salvaguarda, desenvolvidas pela universidade Lueji A’Nkonde, Instituto Nacional do Património Cultural e o Museu Regional do Dundo, incluem a realização periódica de várias actividades, como aulas, palestras e outros eventos científicos, assim como a transmissão do Sona, através dos seus mestres, até à sua incorporação no plano curricular do ensino angolano.
“Pretende-se com isso construir capacidades, para a implementação da Convenção de 2003, submetendo um Acordo Internacional, pedido de assistência à UNESCO e o enriquecimento do acervo do Museu Regional do Dundo, esta última principal guardiã da cultura Cokwe”, disse Jorge Dias Veloso.
Os Ministérios da Cultura e Turismo, Educação e Administração do Território, frisou, vão contribuir com a formulação de políticas, fornecer recursos humanos, bem como criar infra-estruturas para as comunidades de praticantes do Sona envolvidas no processo, sobretudo os líderes do poder tradicional.
O investigador realça que com a inscrição da arte da Matemática Cokwe na UNESCO, a universidade Lueji A’Nkonde assume o papel de liderança e capital da salvaguarda do Património Cultural Imaterial de Angola.