Angola tem todas as condições climáticas e humanas para contribuir na estratégia da segurança alimentar do continente africano de forma sustentável, segundo a presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade.
Graça Machel, que falava em Benguela durante uma conferência sobre o impacto do projecto “Carrinho Agri” na redução da pobreza, acrescentou que o fomento da agricultura familiar é um exemplo claro daquilo que o país pode dar para o desenvolvimento do continente africano.
Durante a conferência, no quadro das comemorações dos 30 anos do Grupo Carrinho, assinalados sexta-feira, Graça Machel considerou haver no continete africano um nível de pobreza ainda preocupante e desafiador, que pode ser mudado, com o esforço abnegado e a entrega de todos.
Graça Machel, que defende a necessidade de todos salvaguardarem os verdadeiros valores culturais que Angola já conquistou na senda africana e internacional, manifestou-se encantada com a forma como foi recebida em Angola, em geral, e em Benguela, em particular, sobretudo por interagir com membros do Governo e de associações, o que demonstra, segundo ela, a união existente no continente.
A integração de homens e mulheres no processo produtivo, referiu, constitui mola impulsionadora, visando garantir e promover o desenvolvimento de diversas localidades de Angola sem necessidade de depender da importação de bens alimentares.
“A estrutura governativa, devidamente integrada, é, também, um indicador e demonstração clara da existência de uma conjugação de sinergias, viradas para o desenvolvimento do país, nos mais variados domínios, quer seja político, económico, social, cultural, entre outros”, sublinhou, acrescentando que a classe empresarial, apesar da conjuntura económica global, tem uma grande oportunidade de dar o seu melhor e apostar em acções de solidariedade para com os mais desfavorecidos. Graça Machel elogiou as acções do Executivo angolano que visam a formação de jovens, em vários domínios, nos centros de formação técnico-profissional, bem como os efeitos positivos do Programa de Combate à Fome e à Pobreza, que, em certa medida, reflectem a imagem e caminhos acertados para um país próspero, desde que todos os cidadãos participem, de forma responsável e patriótica, na sua materialização.
“Com estas acções e realizações que decorrem neste país, com realce no domínio do combate à pobreza, na base do fomento da agricultura, Angola pode contribuir, de forma significativa, no aumento da estratégia da segurança alimentar a nível de África”, reiterou.
Segundo Graça Machel, o continente africano gasta, anualmente, vários milhões de milhões para comprar alimentação no exterior, uma realidade lastimável que pode ser mudada com a vontade de todos e com a experiência de Angola.
Grupo Carrinho modelo de exemplo
Graça Machel, Embaixadora da Boa Vontade da ONU, disse que a aposta do Grupo Carrinho que visa fornecer 244 mil merendas diárias a crianças que frequentam o ensino primário, em várias escolas do país, reveste-se de um elevado sentido e sentimento de patriotismo.
“O desafio do Grupo Carrinho, a todos os níveis, deve servir de exemplo para todos que têm vindo a empreender, em diferentes sectores. O Grupo Carrinho aposta na formação de quadros, para que, no futuro, venham a dar o seu melhor para o desenvolvimento do país. Por esta razão está de parabéns”, sublinhou, incentivando-o a continuar a trabalhar para o desenvolvimento das comunidades, sobretudo no fomento da produção diversificada de bens.
Graça Machel enalteceu o papel, contributo e o impacto do projecto “Carrinho Agri” na redução da pobreza, através do fomento da agricultura familiar, nas províncias de Benguela, Huambo, Cuanza-Sul, Huíla, Bié e Malanje. “Trata-se de uma iniciativa que consiste no apoio com inputs e insumos agrícolas e na compra da produção dos pequenos produtores, o que está a ajudar no fomento da agricultura familiar no país”.
Desde o lançamento, o Carrinho Agri já comprou a pequenos produtores cerca de 100 toneladas de produtos diversos, como milho, feijão, arroz e algodão. Na comuna do Dombe Grande, na província de Benguela, foram colhidos os primeiros resultados, seguindo-se o Cuanza-Sul.
“Devo confessar que é uma lição para mim. Estou impressionada”, afirmou, salientando que o ganho é resultado do que se faz no país, rumo ao bem-estar da população. “A iniciativa deve ser estudada, valorizada e seguida por outras empresas ou grupos que também estão no ramo da agro-indústria”, aconselhou.
Segundo Graça Machel, o facto de as famílias terem acesso a insumos e mercado seguro para a venda dos produtos, faz com que aumente o rendimento familiar e as áreas de cultivo.
A fundadora da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, uma organização empenhada no combate à pobreza e protecção de mulheres e crianças em Moçambique, acredita que esses programas, bem conduzidos, contribuem para a transformação da economia e redução da informalidade.