Presidente da República quer estaleiro capaz de construir navios de guerra

O Presidente João Lourenço declarou, esta segunda-feira, no Soyo, que o país deve investir na construção de um estaleiro naval para a manutenção da frota e iniciar a construção de navios de guerra.

Ao discursar no acto central das comemorações do 47º aniversário da Marinha de Guerra Angolana (MGA), o também Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas afirmou que o início da construção de navios de guerra em Angola poderá constituir-se em embrião para a indústria naval angolana.

João Lourenço sublinhou que o país deve investir, também, em mais bases marítimas para albergar a frota que tende a crescer em número e tamanho das embarcações.

Por outro lado, o Presidente da República afirmou, que a nova Base Naval do Soyo vai contribuir para o combate dos vários crimes praticados nas águas daquela região do país, como a pirataria, imigração ilegal e os diferentes tipos de tráfico, como o humano e de combustível.

Referiu que a Nova Base Naval do Soyo vai contribuir, de forma significativa, para o combate ao tráfico de combustível, uma prática que disse estar muito presente naquela região do país.

“Como sabemos, esta cidade do Soyo é, lamentavelmente, em termos de contrabando de combustível, a campeã, digamos. Portanto, pela negativa, é a campeã”, salientou.

O Chefe de Estado anunciou que os investimentos neste ramo das Forças Armadas Angolanas não vão se limitar à reabilitação da Base Naval do Soyo e da de Luanda, tendo revelado que o objectivo, quanto a essa questão, passa pela construção de uma base naval principal bem maior que estas duas.

“Temos toda a necessidade de construir a base naval principal para o país”, declarou o Presidente da República, salientando não estar satisfeito com a do Soyo e de Luanda. Dado o investimento feito pelo país neste sector, com destaque para a aquisição de meios navais pujantes, como as três corvetas já encomendadas, e a possibilidade de o país vir a adquirir, também, mais lá para frente, embarcações ao nível de fragatas, que estão acima das corvetas, o Presidente da República disse justificar a construção de uma base naval número um do país, que seja bem maior que e a da Ilha de Luanda.

No discurso oficial sobre a inauguração da Nova Base Naval do Soyo e da comemoração dos 47 anos de existência da Marinha de Guerra de Angola, o Presidente da República reforçou, a propósito, que o país deve investir em mais bases marítimas, para albergar estas frotas, bem como investir, igualmente, num estaleiro naval para a manutenção das frotas e iniciar a construção de navios de guerra em Angola, que disse ser embrião da indústria naval angolana.

Quanto ao programa de entrega das embarcações, referiu, no momento com a imprensa, que há prazos, que dependem, em alguns casos, do ritmo de pagamento, que disse estarem a ser feitos, tendo apresentado, como prova, a presença já no país de parte da frota.

“O nosso interesse é que todo o pacote seja concluído o mais rapidamente possível, mas, em princípio, até 2025 devemos ter aqui a totalidade das embarcações desta categoria”, garantiu o Chefe de Estado, reforçando que as três corvetas só começam a ser construídas este ano.

“Teremos a primeira, creio que em 2025, e, nos anos seguintes, vamos receber as outras duas”, aclarou. O Chefe de Estado felicitou todos os oficiais, almirantes, oficiais generais, sargentos, marinheiros e trabalhadores civis da Marinha de Guerra Angolana, pela passagem de mais um aniversário do ramo. Informou que estes investimentos vão ser extensivos a outros ramos das FAA. 

Investimento nas FAA

O Presidente da República fez saber, no seu discurso, que o país foi confrontado, desde os primórdios da existência como nação, com a necessidade de investir na criação e fortalecimento das Forças Armadas, para garantir a defesa da Independência e da soberania nacional.

Fruto dessa e do heroísmo dos seus filhos e filhas, adiantou que, desde o dia do seu nascimento, a 11 de Novembro de 1975, o país soube enfrentar e vencer todas as agressões externas de que foi vítima a partir daquela data, derrotando e expulsando o exército do regime do apartheid da África do Sul, o que disse ter representado um contributo válido e determinante à luta dos povos para a libertação da África Austral.

Embora todos tenham contribuído por igual para a vitória final, João Lourenço ressaltou ser justo reconhecer que, pela característica da guerra, o Estado realizou, ao longo dos muitos anos do conflito, um investimento maior nas infra-estruturas e no apetrechamento em meios bélicos para o Exército e a Força Aérea.

Com o alcance da paz, salientou que o Estado angolano começou a prestar uma atenção, cada vez maior, à necessidade de fortalecer a Marinha de Guerra Angolana, com infra-estruturas em terra, embarcações marítimas de todas as categorias e sistemas de vigilância marítima para proteger a imensa costa, que se estende por cerca de 1.650 quilómetros.

O Chefe de Estado frisou ser neste quadro que se inaugurou ontem a Nova Base Naval do Soyo, para servir a Região Naval Norte, bem como a exibição das embarcações de patrulha, intercepção e transporte militar, que disse constituírem parte de um lote dos meios contratados à empresa naval Privinvest Shipbulding Investments LLC, ao abrigo do Despacho Presidencial n. 258/16 de 29 de Agosto do ano de 2016.

“Mais recentemente, foi, também, encomendada à empresa Abu Dhabi Shipbulding a construção de três modernas corvetas e embarcações de apoio”, realçou. No quadro destes esforços, o Presidente da República deu a conhecer que o país adquiriu, do Reino de Espanha, dois aviões C-295 da Airbus – que estão por chegar ainda este ano, equipados para missões de reconhecimento e vigilância marítima. “E estamos a negociar com a autoridade competente a possibilidade de aquisição também de meios navais”, aclarou.

Localização geográfica de Angola

O Chefe de Estado referiu que, pela sua localização geográfica, Angola e outros Estados das regiões Central e Austral de África devem estar preparados para contribuir na segurança do Golfo da Guiné, por ser uma rota marítima importante para o comércio internacional. Disse estar a acompanhar, com bastante atenção e apreensão, o crescente deteriorar da paz e segurança em diferentes pontos do planeta, começando pela África, onde disse que o terrorismo e as insurgências de diferentes motivações ameaçam as populações e as já frágeis economias.

João Lourenço afirmou que algumas das consequências imediatas e mais visíveis dos conflitos armados são, além das elevadas mortes, o assustador número de deslocados internos, de refugiados em países vizinhos, de emigrantes manipulados por redes de tráfico humano, o aumento da fome, das doenças, da pobreza e da miséria.

Referiu que a situação não é melhor em outras paragens do Globo, apontando o exemplo do Médio Oriente, onde a não implementação das resoluções das Nações Unidas sobre a necessidade da criação do Estado da Palestina para coabitar, pacificamente, com o Israel tem vindo a perpetuar o conflito.

“Ou, ainda, na Europa, com o surgimento da guerra levada a cabo pela Rússia contra um Estado soberano – a Ucrânia -, com consequências graves para o mundo”, destacou. O Presidente da República disse que este e outros conflitos que proliferam pelo mundo só vêm tornar, cada vez mais premente, a necessidade da urgência da reforma das Nações Unidas, em particular do Conselho de Segurança (CS), e das instituições financeiras de Breton Woods, saídas do fim da II Guerra Mundial, por já não reflectirem a realidade política, económica, demográfica e outras do mundo de hoje.

Esclareceu que África, América Latina e a Ásia reclamam o direito de ocupar assentos, como membros permanentes do Conselho de Segurança, não apenas para defenderem os direitos dos respectivos povos, mas, também, para serem parte activa das decisões a tomar sobre os assuntos globais do planeta, como a paz e segurança, a segurança alimentar, a segurança energética, a saúde pública, o comércio internacional, o clima e a defesa do ambiente, entre outros.

Centros de Vigilância Marítima

O Chefe de Estado antes de descerrar a placa da inauguração da Nova Base Naval do Soyo visitou o Centro de Vigilância daquele município da província do Zaíre. Disse que as obras das instituições, localizadas no Lobito, em Benguela, e no Namibe, estão a bom ritmo. 

“Vamos fazer toda a pressão, no sentido de eles ficarem concluídos o mais rápido possível, na medida em que eles devem trabalhar em coordenação”, destacou, acrescentando que o do Soyo já está pronto. Apesar de o Centro de Vigilância Marítima do Soyo já estar pronto, João Lourenço explicou que a meta é conclusão de todos, nomeadamente, o de Luanda, Lobito e Namibe.

Presidente da República esclarece contrato com a empresa Privinvest

O Presidente da República esclareceu, na ocasião, que o contrato com a empresa naval Privinvest Shipbulding Investments LLC, ao abrigo do Despacho Presidencial n. 258/16 de 29 de Agosto do ano de 2016, não belisca, de forma alguma, o bom nome da Marinha de Guerra Angolana, nem do Estado angolano, apesar de estar envolvida a um processo em Moçambique.

Informou que antes de contratar a Privinvest, que disse ser um grupo empresarial, o Estado angolano fez a diligência prévia para conhecer as capacidades do contratado e ver se estava ou não à altura de honrar com os seus compromissos da mesma forma que o país honra com os seus, de pagar o custo dos equipamentos.

Dessa diligência feita, o Presidente da República ressaltou que a conclusão a que se chegou foi a de que se trata de um grupo empresarial idóneo, que tem estaleiros navais em França, Alemanha e no Reino Unido, que apetrecham as marinhas de guerra de muitos países europeus.

Salientou que os equipamentos que este grupo tem que fornecer ao país não são apenas estes, devendo vir muito mais, para além da disponibilidade que Angola tem de comprar equipamentos navais também a outros países e a outros grupos empresariais.

O Presidente da República esclareceu que nenhuma empresa do mundo tem o dever de reportar ao Fundo Monetário Internacional as suas dívidas, não importando com quem seja contraída, lembrando que apenas os Estados têm essa responsabilidade.