Presidente João Lourenço: “Angola pode jogar um papel importante na crise energética mundial”

Segunda-feira, 25 de Outubro, após a sua participação no dia inaugural do oitavo Fórum Internacional de Dakar sobre a Paz e Segurança em África, o Presidente da República, João Lourenço, concedeu uma entrevista à enviada especial da RFI ao evento, a jornalista Lígia Anjos.

RFI: A África Lusófona é convidada de honra nesta 8ª edição do fórum internacional de Dakar. Por que motivo?

Presidente João Lourenço: Nós pensamos que terá sido pelo facto da cimeira de Malabo, que teve lugar em Maio, me ter colocado na posição de campeão da paz e segurança do continente. Uma vez que a matéria principal deste fórum de Dakar é paz e segurança, acho que faz todo o sentido que o campeão da paz e segurança do continente fosse o convidado especial desta edição.

RFI: Angola é o mediador do conflito Ruanda-República Democrática do Congo. Houve um encontro este verão em Luanda. Há soluções à vista?

Presidente João Lourenço: Nós estamos bastante optimistas no geral, mais concretamente em relação a este conflito. Temos razões de sobra para estarmos optimistas, uma vez que alguns passos positivos já foram dados, no sentido da resolução do conflito, nomeadamente, e como citei na sala, o facto de ter havido troca de prisioneiros, com a nossa mediação. Além do facto de ter decorrido, em Luanda, a reunião da comissão bilateral ou mista entre os dois países ou ainda o facto de os dois Chefes de Estado terem voltado a falar, pelo menos telefonicamente. Eles têm falado com alguma regularidade e não só por telefone, ainda agora em Nova Iorque, à margem da Assembleia das Nações Unidas, falaram os dois, na presença do Presidente francês, Emmanuel Macron. Nós estamos satisfeitos e acreditamos que o mais rápido possível vamos chegar a um desfecho do conflito.

RFI: O que falta fazer para acabar com o conflito? 

Presidente João Lourenço: O que falta fazer é, com certeza, acabar com o conflito, mas falta pouco, pouco, pouco. Eu fiquei de ir a Kinshasa, na primeira oportunidade que puder, propus ir a Kigali e, quem sabe, terminarmos em Luanda.

RFI: Quando é que isso vai acontecer?

Presidente João Lourenço: Logo que seja possível. Os nossos calendários estavam condicionados a este período eleitoral, que já terminou. A partir de agora vamos retomar com força este dossier.

RFI: O senhor presidente também falou, aquando da última questão que lhe foi colocada no painel, durante a abertura do fórum, sobre o conflito que assola Moçambique. Moçambique não esteve presente neste fórum e vive uma situação muito problemática há vários anos…

Presidente João Lourenço: Sim, com certeza. Lamentavelmente, Moçambique está a atravessar um mau momento e, com isso, todo o mundo está a sofrer, porque se Moçambique estivesse em paz, o mundo estaria já a beneficiar do gás produzido ali, em Cabo Delgado. Não esteve presente, mas estamos aqui nós para o representar.

RFI: O Presidente senegalês, Macky Sall, referia o facto de existir uma escassez de cereais, por causa do conflito que vive a Ucrânia. O presidente Macky Sall lembrou que o preço do petróleo também está a aumentar. Angola pode jogar um papel importante uma vez que é o segundo maior país produtor de Angola petróleo em África?

Presidente João Lourenço: Sim, nós podemos jogar um papel importante uma vez que somos o segundo maior produtor de petróleo no continente africano. O mundo está aflito, podemos assim dizer, com a problemática da energia. Angola não só pode contribuir com combustíveis fósseis, mas também estamos a estudar com uma empresa alemã a possibilidade da produção de hidrogénio verde em Angola, que é uma fonte de energia limpa e exportável para a Europa e para quem precisar dela. Felizmente temos importante cursos de água. A produção energética em Angola é sobretudo hidroeléctrica, não é poluente. É uma fonte limpa. Estamos também a fazer importantes investimentos no solar, começámos na província de Benguela, já foram inaugurados dois importantes parques. Vamos fazer um investimento bem maior do que o de Benguela no sul de Angola, nomeadamente, no Namibe, na Huíla, no Cunene.

RFI : Que tanto sofrem com a seca…

Presidente João Lourenço: Com certeza. Já temos garantido o financiamento americano com a garantia do banco americano. É um projecto que vai arrancar em breve.

RFI: Uma última questão relativa as eleições autárquicas. Para quando?

Presidente João Lourenço: Quando houver condições. Como sabe o pacote legislativo autárquico não está terminado. Enquanto isso não posso assanhadamente – se me permite a expressão – convocar eleições.

Fonte JA Online