Estadistas no último adeus ao Arquitecto da Paz

Entidades do mundo político, religioso, diplomático, militares, membros do Executivo e da sociedade civil, incluindo cidadãos renderam,este sábado, na Praça da República, a derradeira homenagem ao ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, falecido dia 8 de Julho último, numa clínica privada de Barcelona, Reino de Espanha.

A cerimónia fúnebre iniciou na sexta-feira, às sete horas da manhã, com a retirada da urna da residência do ex-Presidente da República, com honras de Estado reduzidas, e  seguiu, em cortejo, até à Praça da República, onde, diante da urna com o corpo do “Arquitecto da Paz”, o Jornal de Angola ouviu algumas entidades, cujas declarações convergiram no reconhecimento da “valiosa” contribuição de José Eduardo dos Santos nas negociações para o estabelecimento da paz definitiva em Angola.

Em declarações à imprensa, a ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, falou da rigorosidade que caracterizava o ex-Presidente José Eduardo dos Santos, no cumprimento das missões que incumbia aos colaboradores.

Como homem de cultura, recordou, muitas vezes partilhou opiniões sobre o modelo de cultura que deveria prevalecer no país, para que as minorias étnicas, autoridades tradicionais e entidades religiosas pudessem exercer um “papel preponderante” na sociedade.

Classe diplomática bastante consternada

O chefe da diplomacia angolana disse que a classe diplomática se sente bastante consternada, sobretudo pelo facto de José Eduardo dos Santos ter sido o primeiro ministro das Relações Exteriores no pós-Independência.

Téte António referiu que mais de 20 delegações estrangeiras ao nível de Chefes de Estado e de Governo, incluindo individualidades de organizações internacionais, participam, hoje, nas exéquias. Alguns Chefes de Estado chegaram ontem ao país, como é o caso do Presidente e Primeiro-Ministro de São Tomé e Príncipe, de Portugal e de Cabo-Verde. Participam no funeral os  Presidentes da Guiné-Bissau, RDC, República do Congo, Zimbabwe, África do Sul e a Primeira-Ministra do Gabão.

“Angola agradece a presença de todas as individualidades, porque é nos momentos difíceis que se conhecem os amigos”, declarou Téte António, realçando os vários eventos internacionais realizados com o apoio do Presidente José Eduardo dos Santos, as negociações no quadro da batalha do Cuito Cuanavale, que ditou o rumo da história da África Austral e do mundo.

O ministro das Relações Exteriores referiu, ainda, que o considerável número de individualidades internacionais nas exéquias demonstra o “papel preponderante” de José Eduardo dos Santos no acompanhamento das “lutas mais difíceis” travadas na África Austral, sobretudo para a proclamação das independências da Namíbia e África do Sul.

O empenho do Presidente José Eduardo dos Santos na criação  das Comunidades Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e de Desenvolvimento da África Austral (SADC), também foi referenciado pelo chefe da diplomacia angolana.


 Apelo à serenidade e ao bom senso

O cónego Apolónio Graciano, da Igreja Católica, apelou aos angolanos a manterem a paz, serenidade e bom senso, como forma de perpetuarem a  memória do Presidente José Eduardo dos Santos. Aos cidadãos, Apolónio Graciano pede para olharem, sobretudo, para os “feitos positivos”, do homem que também soube perdoar e amar.

Para o sacerdote católico, a morte de José Eduardo dos Santos deve levar cada angolano a rever a sua própria limitação humana, como forma de proporcionar uma vivência no amor, concórdia, e no espírito de diálogo.

Aos agentes das redes sociais recomendou para que mantenham uma postura de serenidade, evitando incentivar conflitos, discórdias, mal-estar, lembrando, a propósito, a “única” recomendação de Jesus Cristo quando veio à terra, consubstanciada na necessidade de “todos pautarem por um  comportamento no amor ao próximo”.

“Espero que o momento que estamos a passar nos ajude a serenar os espíritos e apelarmos para aquilo que realmente nos une, do que aquilo que nos divide”, afirmou o cónego.

O secretário do Bureau Político do MPLA para a Informação e Propaganda considerou relevante o facto de se estar a honrar a memória daquele que foi o Presidente de todos os angolanos, durante muitos anos, tendo considerado José Eduardo dos Santos como uma pessoa “extraordinária e patriota sem limites, que se dedicou de corpo e alma ao povo e ao país”.

Rui Falcão realçou ainda o facto de o ex-Presidente ter dado tudo de si para a conquista da liberdade e paz definitiva no país, celebrada em 2002. “José Eduardo dos Santos foi um dirigente no verdadeiro sentido da palavra, um homem com  tremenda capacidade de direcção e patriota de mãos cheias”, referiu o político com semblante de tristeza.

Antigos companheiros lamentam a perda

O Jornal de Angola ouviu, também, alguns amigos de longa data, em relação aos quais, o malogrado nutria simpatia e consideração. Caso de Agostinho Neto, de 83 anos, natural do Sambizanga, Domingos Inguila, antiga estrela do futebol angolano, Brito Sozinho e Daniel Cata.

Todos os depoimentos lembram os “bons momentos” na juventude passados com José Eduardo dos Santos, as celebrações das datas de aniversário no Futungo de Belas e, mais tarde, no Parque do Palácio Presidencial e desafios de futebol.

“José Eduardo dos Santos era amigo dos seus amigos e estava sempre pronto para nos ajudar”, revelaram, mas lamentaram o facto de o malogrado ter deixado o mundo dos vivos sem que pudessem dar o último adeus, nos derradeiros momentos da sua vida. “Deixa-nos uma tristeza muito grande, porque depois de tanta convivência, partiu sem lhe darmos o último adeus, nos últimos momentos da sua vida”.

O embaixador Brito Sozinho disse que José Eduardo dos Santos não foi apenas um amigo, mas um irmão nas dificuldades. Já a nacionalista Rodhet Gil  falou dos “duros” momentos vividos durante a luta de libertação nacional, salientando que a Independência do país contou, sobretudo, com o contributo das regiões político-militares. “Quando eu estava na Frente Leste, José Eduardo dos Santos vinha da primeira e segunda regiões político-militares. A luta foi comum e conseguimos libertar a Nação”, concluiu.

Fonte: JA Online