Ministério das Relações Exteriores anuncia abertura de quatro embaixadas

O Executivo vai abrir, em breve, novas embaixadas na Noruega, Indonésia, Timor-Leste e na Austrália e transferir a Embaixada de Angola na Singapura para as Filipinas.

As medidas foram, ontem, anunciadas pelo chefe da diplomacia angolana, Téte António, na abertura do X Conselho Consultivo Alargado do Ministério das Relações Exteriores, que encerra hoje, na Academia Diplomática Venâncio de Moura, em Luanda.

Na ocasião, o chefe da diplomacia angolana afirmou que o processo de instalação e de acreditação dos embaixadores para as novas missões diplomáticas já se encontra em fase conclusiva.

O processo de abertura e transferência de embaixadores para outros países, esclareceu, enquadra-se na estratégia do Executivo para manter o equilíbrio na racionalização e redimensionamento da rede diplomática e consular de Angola, tendo em vista à evolução da economia internacional e os factores geopolíticos actuais.

Relativamente à abertura de mais missões diplomáticas e consulares estrangeiras no país, Téte António referiu que demonstra o contínuo interesse no reforço das relações de amizade e cooperação e não só, bem como a importância estratégica de Angola no mundo.

No encontro, que decorre sob o lema “O Mirex e a valorização do capital humano nas vertentes diplomática e administrativa”, o ministro sublinhou que Angola está focada na captação de investimento directo estrangeiro, no estímulo das exportações nacionais, na atracção de turistas e na paulatina internacionalização das empresas angolanas.

Téte António frisou que o Ministério das Relações Exteriores, em estreita colaboração com outras instituições, promoveu durante as visitas do Presidente da República ao exterior, bem como de dignitários estrangeiros a Angola, fóruns empresariais, feiras, exposições e outros eventos, que permitiram a divulgação do nome de Angola a diversos investidores.

Neste sentido, acrescentou que o Executivo dedica especial importância ao mercado africano, muitas vezes negligenciado, mas que desperta o grande interesse de outros parceiros fora do continente.

O ministro das Relações Exteriores disse que o café de Angola está, nos últimos anos, a recuperar a sua posição nos vários mercados internacionais, seguido de outros produtos como o mel e o cacau.

Com a melhoria do ambiente de negócios levado a cabo pelo Executivo, referiu o ministro Téte António, assiste-se a um aumento gradual de investimentos na economia, com maior realce a do Corredor do Lobito, o regresso a Angola da multinacional diamantífera DE BEERS e na vertente da promoção do turismo nacional, com a inauguração do Parque Nacional do Iona, na província do Namibe.

No plano bilateral, a par das parcerias estratégicas já existentes, disse que Angola tem feito uma maior aproximação aos Estados da Península Arábica, com realce para os Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e o Qatar.

 
Multilateralismo e uma diplomacia virada à paz

O ministro salientou que o Governo considera o multilateralismo uma das formas mais eficazes de se combater as ameaças globais e alcance de soluções colectivas que satisfaçam todos os intervenientes.

Téte António reafirmou ainda que dentro dos princípios do multilateralismo, a República de Angola defende a necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), de maneira a torná-lo mais inclusivo e eficiente, face aos desafios actuais.

No âmbito da diplomacia virada à paz, Téte António disse que Angola continua a constituir um “vector importante da afirmação do prestígio internacional, apesar das dinâmicas que se observam na Região dos Grandes Lagos, precisamente no Leste da República Democrática do Congo (RDC), República Centro-Africana (RCA) e Sudão.

Segundo Téte António, preocupa igualmente, Angola a situação prevalecente no Sahel, onde se acentuam acções de terrorismo, e o ressurgimento de mudanças inconstitucionais em determinados países de África.

“A experiência de Angola permite-nos aconselhar as partes envolvidas a privilegiarem o diálogo para o alcance da paz duradoura na região, via defendida pelo Campeão da Paz e da Reconciliação em África, João Lourenço, na qualidade de Presidente em exercício da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), e Presidente da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC)”, assinalou.

O Ministério das Relações Exteriores, ressaltou, tem levado a cabo acções que visam a consolidação da experiência acumulada pela República de Angola, incluindo por via do estabelecimento de parcerias com instituições vocacionadas em matéria de mediação, prevenção e resolução de conflitos, com maior realce para a ONU.

Ao se dirigir para os mais de 50 embaixadores participantes no Conselho Consultivo Alargado, Téte António disse que a presença de Angola nos organismos multilaterais constitui uma oportunidade para a inserção de quadros nacionais nessas instituições.

Entre os temas a serem debatidos, hoje, destaca-se o reforço do posicionamento estratégico de Angola nas organizações internacionais e regionais, com vista à dinamização da acção na esfera multilateral.

No tema acima, o embaixador de Angola na Etiópia e representante permanente junto da União Africana e da Comissão Económica das Nações Unidas para África (UNECA), Miguel Bembe, vai apresentar as linhas estratégicas para a presidência de Angola na UA em 2025.

O quadro geopolítico e geoeconómico do Médio Oriente: perspectivas para o futuro; e as potencialidades da Ásia e Oceânia: perspectivas de cooperação e a estratégia de actuação vão dominar as discussões no segundo dia do encontro alargado.

Os diplomatas vão também abordar  hoje a situação geopolítica actual de África e o papel da diplomacia angolana e a presidência pro-tempore de Angola na SADC 2023-2024.


Embaixador apela à valorização do capital humano

O porta-voz do X Conselho Consultivo e também embaixador de Angola junto da Organização das Nações Unidas (ONU), Francisco da Cruz, referiu que este ano a reunião incide, principalmente, numa maior atenção à valorização dos quadros do Ministério das Relações Exteriores, na perspectiva de melhor capacitação para que estejam à altura de responder aos grandes desafios e oportunidades ao nível da comunidade internacional.

“O X Conselho Consultivo Alargado do Ministério das Relações Exteriores faz parte de um exercício anual para analisar as actividades desenvolvidas pelo órgão e fazer um enquadramento daquilo que é necessário em termos de respostas do país na defesa dos seus interesses na arena internacional”, disse Francisco da Cruz.

Sobre os conflitos no continente africano e no mundo, de forma geral, Francisco da Cruz sublinhou que Angola defende o multilateralismo como uma forma de resolução dos problemas e de resposta às preocupações globais.

“Este tem sido o posicionamento do país, nos vários fóruns internacionais, pela convicção de que todos os problemas enfrentados enquanto comunidade internacional devem ser resolvidos por via da concertação para uma solução comum”, ressaltou.

Por seu turno, a delegada permanente de Angola junto da UNESCO, Ana Maria de Oliveira, considerou o multilateralismo como uma das áreas mais actuantes da diplomacia, tendo em conta as realidades actuais.

Relativamente ao capital humano, a embaixadora defendeu a necessidade de se primar pela qualidade dos técnicos colocados nos organismos para a materialização dos projectos e programas do país.

Por sua vez, a embaixadora de Angola na Itália, Fátima Jardim, aproveitou a ocasião para enaltecer os esforços do Executivo, particularmente do MIREX, no que concerne à política externa de Angola, com recurso à valorização do capital humano e representação da imagem da nação na arena internacional.


Mazarino da Cunha e Pedro Ivo